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segunda-feira, 9 de maio de 2011

'Gato' em wi-fi de praça leva web para moradores de cidade amazonense

Projeto do governo instalou internet em pontos turísticos da cidade.
Sem provedor e com modems caros e ruins, puxar sinal foi a solução.


Laura Brentano Do G1, em Presidente Figueiredo (AM)

Morador de Presidente Figueiredo tenta há 30 dias acessar a web na praça. Ainda não conseguiu (Foto: Laura Brentano/G1)Morador da cidade tenta há 30 dias acessar a web na praça. Ainda não conseguiu (Foto: Laura Brentano/G1)
 
Moradores de Presidente Figueiredo (AM) encontraram na praça principal da cidade a solução para a instabilidade na internet na cidade. A conexão sem fio que foi instalada exclusivamente na Praça da Cultura foi puxada para diversas casas, levando rede gratuita para quase todo o município.
Um projeto do governo do Amazonas pretendia instalar internet wi-fi nas cidades turísticas do estado. A 100 km de Manaus, o município de 27 mil habitantes conta com 107 cachoeiras, 149 cavernas e tem atraído turistas do mundo todo. Porém, a conexão banda larga ainda não chegou oficialmente aos moradores de Presidente Figueiredo.

A família de Klicianaianny foi uma das primeiras a puxar o sinal da praça (Foto: Laura Brentano/G1)
A família de Klicianaianny foi uma
das primeiras a puxar o sinal da praça
(Foto: Laura Brentano/G1)
 
Klicianaianny Souza, de 21 anos, estudante de turismo, usou o modem de uma operadora durante dois anos para acessar a rede em casa. “Além de não ser muito barato, a conexão não funcionava quando chovia”, conta. O pai de Klicianaianny foi um dos primeiros moradores a puxar o sinal da praça.
“Quando surgiu a notícia sobre o wi-fi, a maioria das pessoas acreditava que seria para toda a população, e não apenas para a praça”, conta a estudante, que tem Facebook há um ano e Orkut há 4. Depois que eles desistiram do modem, a família ficou quase um ano sem acessar a web de casa.
Shenna Souza, de 17 anos, irmã de Klicianaianny, está no 2º ano do Ensino Médio de uma escola estadual de Presidente Figueiredo. Mesmo com os professores pedindo que os alunos façam pesquisas pela internet, o laboratório de informática da escola não tem acesso à web. Por isso, ela precisava ir à lan house para fazer os trabalhos escolares
“Eu prefiro que ela fique em casa, pois assim posso controlar o que ela está acessando”, argumenta a mãe das meninas, Suamy de Souza. “Além disso, nós não temos notebook, só um desktop. Como iríamos acessar a internet da praça?”, completa.
Por isso, quando o wi-fi foi instalado na Praça da Cultura, Alcinei Batista, pai de Klicianaianny, comprou uma antena e uma placa wireless. Ao todo, ele gastou cerca de R$ 360 e agora não precisa pagar nenhuma mensalidade.

Rosalice instalou a antena em casa há 4 meses. Mas ela não consegue acessar quando chove (Foto: Laura Brentano/G1)Rosalice instalou antena em casa há 4 meses e não consegue acessar quando chove (Foto: Laura Brentano/G1)
 
“Mas é só o tempo fechar para ficarmos sem internet”, diz Rosalice Borges de Brito, de 31 anos, que instalou uma antena em casa há 4 meses. Ela tem uma loja de roupas e cosméticos e usa a internet para fazer pesquisas. Rosalice não tem Orkut e nem sabe o que é Messenger.

Rarisson acha mais fácil acessar o Facebook pelo celular, mesmo sem 3G (Foto: Laura Brentano/G1)                                                   Rarisson acha mais fácil acessar o Facebook pelo
celular, mesmo sem 3G (Foto: Laura Brentano/G1)
 
Porém, seu filho, Rarisson Borges de Brito, de 13 anos, abriu uma conta no Facebook há dois meses como sugestão de um colega do 9º ano do Ensino Fundamental. Como a internet em casa é lenta e instável, ele consegue acessar a rede social pelo celular.
Durante a noite, quando não tem sol e a temperatura já baixou, é comum ver pessoas na praça com seus notebooks. Um funcionário da Agropecuária Jayoro, de Presidente Figueiredo, comprou o seu primeiro computador portátil há 30 dias e até agora não conseguiu acessar a internet. “Ainda estou pensando se opto pelo modem ou pela antena”, disse.
Enquanto não decide, ele vai de noite para a Praça da Cultura para tentar se conectar. Porém, até agora, não conseguiu uma única vez. Sem e-mail, ele acessa a internet pelo celular todos os dias para ver as notícias. “Está sendo muito mais fácil acessar a web pelo celular do que pelo notebook”, conta.
Adílson de Melo, de 26 anos, e Cleide Santos, de 23, são casados há cinco anos e há 2 mantêm uma lan house em Presidente Figueiredo. Nomeada de “Baixada”, a lan house fica quase em frente à Praça da Cultura. Apesar da internet gratuita na cidade, o estabelecimento tem muito movimento. “Muita gente na cidade não tem notebook, computador ou impressora em casa”, explica. Sobre o que os jovens fazem na lan house, Adílson responde prontamente o que eles não fazem: jogar games on-line. “Com a conexão que temos, é impossível. Eles jogam games de computador mesmo”, completa.

Adílson e Cleide são donos de uma lanhouse em Presidente Figueiredo há 2 anos (Foto: Laura Brentano/G1)
Adílson e Cleide são donos de uma lanhouse
em Presidente Figueiredo há 2 anos
(Foto: Laura Brentano/G1)
 
Adílson reclama muito do preço alto que ele precisa pagar para ter internet na sua loja: R$ 700 por mês. Ele usa internet via satélite e GSM. “Coloquei uma antena no telhado da minha loja para poder amplificar o sinal do modem”. “Quem vive no interior, tem que viver como no interior, usando fax”, brinca Adílson.
Segundo Ricardo Fernandes, coordenador de TI da prefeitura, a internet wi-fi foi instalada em Presidente Figueiredo no final de 2009, como parte do projeto do governo conhecido como “Amazonas Digital”. No início, o objetivo do governo era colocar internet apenas na praça e na cachoeira Urubuí, próxima ao centro da cidade, para ajudar os turistas a se conectarem.
“Depois que os moradores começaram a puxar o sinal para as suas casas, outro ponto foi colocado em uma torre mais alta do município, para que a população também usufruísse da internet”, conta. “Hoje em dia, o único bairro que ainda não tem wi-fi é o Galo da Serra, pois fica um pouco distante e tem muitas árvores. Mas o objetivo da prefeitura é levar internet inclusive para as zonas rurais”, completou.

Antena instalada na Secretaria de Turismo está voltada para a Praça da Cultura (Foto: Laura Brentano/G1)Antena instalada na Secretaria de Turismo está voltada para a Praça da Cultura (Foto: Laura Brentano/G1)
 
A internet chegou a Presidente Figueiredo em 2003, segundo Fernandes, pelo provedor ViaClick, que oferecia internet via satélite para a população por cerca de R$ 100. Eles usavam a mesma torre onde está o sinal da Amazonas Digital hoje. “Porém, com a chegada do wi-fi gratuito, a ViaClick perdeu clientes e resolveu fechar”, diz Fernandes. Outra opção para os moradores é o modem da operadora Vivo, que desde novembro de 2010 disponibiliza o sinal 3G para a telefonia móvel.
O que muitos moradores da cidade se perguntam é: “Quando a banda larga de verdade vai chegar?”. Um cabo de fibra ótica que vem da Venezuela já passa por toda a BR-174, que liga Presidente Figueiredo a Manaus. Porém, a internet rápida ainda não está disponível no município. Por enquanto, resta aos moradores acessar a web pelo celular e é rezar para não chover.

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