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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Em mina que produz elemento base para celular, aparelhos não funcionam

O Brasil é responsável por 14% da produção mundial de tântalo.
Material faz com que baterias dos celulares durem mais.

Laura Brentano De Presidente Figueiredo (AM)

Mina de Pitinga (AM) é responsável por 40% da produção nacional de tântalo (Foto: Laura Brentano/G1)  Mina de Pitinga (AM) é responsável por 40% da produção nacional de tântalo (Foto: Laura Brentano/G1)
 
## = $$ Quanto dura a bateria de um celular? Graças a um metal extraído no Brasil, um aparelho móvel pode ser usado sem recarga por até uma semana. O tântalo é um elemento essencial para a indústria eletrônica. E o Brasil é responsável por 14% da sua produção mundial, além de ser dono de 61% das reservas do minério em todo o planeta.

Na série lig@dos, o G1 vai mostrar como pessoas de diferentes locais se relacionam com a tecnologia. Na primeira etapa, mostraremos três cidades em diferentes estados da região Norte do país.

Mapa Presidente Figueiredo AM (Foto: Arte/G1)

No entanto, em meio à fabricação de um material tão importante para fazer o telefone funcionar, o sinal de celular ainda não chegou aos 1,2 mil trabalhadores da mina de Pitinga (AM). A antena mais próxima está em Presidente Figueiredo, a 3 horas de carro.
A 300 km de Manaus, ao lado de uma reserva indígena da etnia waimiri-atroari, a Mineração Taboca extrai das rochas da Floresta Amazônica o material que vai chegar mais tarde aos computadores, filmadoras, óculos e air bags de carros.

Reserva indígena tem população de 2 mil índios, sendo que alguns não falam português. Na estrada para Pitinga, é muito comum cruzar com onças  (Foto: Laura Brentano/G1)
Reserva indígena tem população de 2 mil índios,
sendo que alguns não falam português. Na estrada
para Pitinga, é muito comum cruzar com onças
(Foto: Laura Brentano/G1)
 
Por ser muito resistente a altas temperaturas, o tântalo também é usado em gasodutos e tem a indústria espacial como seu segundo cliente. O telefone móvel é o principal destino do tântalo, responsável pelo armazenamento de energia das baterias.
A falta de sinal em Pitinga não é motivo para Daydson Mendes Coelho, de 33 anos, deixar de comprar um celular: ele tem logo quatro, um para cada operadora. Há seis anos trabalhando na mina, Daydson já deveria estar acostumado com a vida sem celular. “Quando vejo as promoções, eu não resisto”, explica. Mas para que tantos aparelhos se não tem sinal em Pitinga? “Eu uso com a família e com os amigos toda vez que vou para Manaus”.
A ausência de sinal já foi motivo para brincadeira. “Uma vez, meu chefe colocou o aparelho para despertar e, quando o celular tocou, ele fingiu que atendia uma ligação e passou para a mulher dele, que respondeu sem se dar conta que não era possível receber ligações em Pitinga”, conta Daydson.

O tântalo-nióbio, produzido em Pitinga, pode ser vendido em pequenas pedras ou refinado (Foto: Laura Brentano/G1)       O tântalo-nióbio pode ser vendido em pequenas pedras ou refinado (Foto: Laura Brentano/G1)

Robert Mendonça, de 22 anos, deu outra finalidade ao celular: escutar música. “Tenho mais de 300, entre sertanejo e tecnobrega”, conta ele, que acessava ao Orkut enquanto ouvia as músicas do celular na lanhouse da Associação de Pais e Amigos de Pitinga, que também oferece cursos de informática para os sócios.
A internet chegou antes do celular para a população de 3 mil habitantes da Vila de Pitinga, próxima à mina. Muitos moradores pagam uma mensalidade de cerca de R$ 130 para acessar à web via rádio por uma antena instalada no telhado.

Robert Mendonça usa seu celular para escutar música enquanto acessa o Orkut (Foto: Laura Brentano/G1)
Robert Mendonça usa seu celular para escutar
música enquanto acessa ao site do Orkut
(Foto: Laura Brentano/G1)
 
“Como a velocidade não é muito boa em algumas casas, muitos moradores ainda frequentam a lanhouse. Temos também impressora e dois computadores exclusivos para alunos que precisam fazer pesquisa”, explica Aldeluisa Freire Barbosa, secretária da associação.
Os moradores da vila também contam com telefone fixo. Porém, a preferência é pelo celular. “Fiquei sem telefone fixo por 4 anos e não senti falta. Já minha filha de 11 anos já ganhou um celular”, conta Anderson Pereira dos Santos, de 39 anos, que agora usa o aparelho como despertador.
Criada na década de 1980, Pitinga é a única produtora da liga de tântalo-nióbio, que é comercializada para a Companhia Industrial Fluminense (CFI), de Minas Gerais, único cliente brasileiro da mina. “Nós vendemos muito para o exterior, como Europa e Ásia, principalmente China”, explica Klayton Botelho, gerente de produção da mina.

Antena leva telefone fixo aos moradores da Vila de Pitinga (Foto: Laura Brentano/G1)                                                      Antena leva telefone fixo aos moradores da
Vila de Pitinga (Foto: Laura Brentano/G1)
 
Entre os smartphones mais usados pela população de Presidente Figueiredo, município fundado há 30 anos devido ao interesse pela mineração, estão os importados “Made in China”.
O processo de produção do tântalo não é simples. Desde sua extração da rocha até quando chega aos celulares, diversos passos precisam ser seguidos. Depois de sair da mina, o tântalo é então separado do nióbio e comercializado para a indústria eletrônica.
O material é usado desde 1975 pelo mercado de eletrônicos, mas com o aumento nas vendas de computadores e celulares, a previsão é que a produção de tântalo na mina de Pitinga dobre nos próximos dois anos, afirma Botelho.
Desde março de 2009, quando a mina foi vendida para o grupo peruano, as explorações na jazida pararam. “De lá para cá, começamos a processar os resíduos dos últimos 8 anos até que as plantas industrias sejam adequadas”, diz Botelho. O Brasil é dono de 61% das reservas de tântalo no mundo, ficando à frente da Austrália (38%), segundo relatório publicado pelo Instituto Geológico dos Estados Unidos em 2010.

Rocha da onde o tântalo é extraído e usina onde ele é produzido (Foto: Laura Brentano/G1)Rocha Sã, da onde o tântalo é extraído, e usina em Pitinga onde ele é produzido (Foto: Laura Brentano/G1)

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