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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Empresas brasileiras ligadas a petróleo perdem R$ 80 bilhões em valor de mercado no ano


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Setor caiu 22,4%, com Petrobras recuando quase 17% e OGX tombando 60%

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RIO — O derretimento de bilhões de dólares da fortuna de Eike Batista na semana passada foi provocado por problemas que só dizem respeito ao grupo EBX, mas o drama faz jus ao desempenho de suas ‘colegas’ do setor de petróleo, gás, refino e petroquímica. Juntas, essas companhias já perderam 22,43% do seu valor de mercado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) do fim de 2011 à segunda-feira passada, segundo a consultoria Economática. Ao todo, evaporaram R$ 79,5 bilhões dos seus papeis este ano, o que equivale praticamente a duas Souza Cruz. O declínio do setor supera em muito a queda da Bolsa como um todo: o Ibovespa, índice de referência do mercado, caiu apenas 3,63% no mesmo período.
Como o segmento é muito concentrado em Petrobras e OGX — que detêm respectivamente 88,3% e 6,5% do valor de mercado total —, os ocasos dessas duas empresas respondem por praticamente todo o dinheiro perdido. A gigante Petrobras registrou no ano uma depreciação de 16,69% em seu valor de mercado, que foi mordido em R$ 48,6 bilhões. Esse montante representa 61,20% das perdas do setor. Apesar de bem menor, a OGX é culpada pela evaporação de R$ 26,2 bilhões, 33% do total. No ano, a joia de Eike Batista recuou praticamente 60% em seu valor. E mais de dois terços desse tombo ocorreu no fim da semana passada, com o anúncio de que a petrolífera produzirá em um poço na Bacia de Campos apenas um quarto do que divulgara.


Mas mesmo as companhias menores vêm sofrendo perdas significativas em suas ações. A Queiroz Galvão teve desvalorização de 55,5% no ano, passando de cerca de R$ 4,4 bilhões, ao fim de 2011, para quase R$ 1,9 bilhão, na segunda-feira. A petrolífera, que representa apenas 0,71% do setor, causou 3,07% das perdas. A jovem HRT, que opera blocos na Bacia do Solimões (AM) e na costa africana, desvalorizou-se em 44,6%, ou cerca de R$ 1,5 bilhão. Também tiveram perdas proporcionalmente consideráveis a Refinaria de Manguinhos (33,15%) e a Unipar (13%). A única que sustentou seu valor ao longo do ano foi a petroquímica Braskem, cujo recuo ficou em 2,53%.


Produção menor é causa comum para Petrobras e OGX
Para Nataniel Cezimbra, da BB Investimentos, reveses no fluxo de caixa explicam grande parte do mau desempenho do setor. Ele lembra que as quatro principais companhias foram impactadas por notícias negativas para o seu faturamento. No caso da Petrobras, Cezimbra destaca o corte na meta de produção de petróleo, previsto no plano de negócios elaborado para os próximos quatro anos. Responde também pelo ocaso das ações a defasagem do preço dos combustíveis no Brasil em relação ao mercado internacional. Alvo da ladainha dos investidores há tempos, essa defasagem foi reduzida na semana passada com o reajuste da gasolina (7,83%) e do óleo diesel (3,94%). Mas o mercado queria aumentos muito maiores, e a insatisfação continua.


— O desempenho do segmento de abastecimento foi o grande vilão da Petrobras, e os investidores receberam com decepção o aumento no preço dos combustíveis junto às refinarias. Se a alta se deu com a contrapartida da redução de um imposto, por que isso não havia sido feito antes? O mercado também não viu com bons olhos um plano de investimento de R$ 236,5 bilhões com uma produção projetada para crescer apenas 2% ao ano até 2013 — avalia Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores. — Além disso, com a frágil situação econômica global, os investidores internacionais estão mais sensíveis a risco. Nesse cenário, a ação da Petrobras sofre por ser muito líquida.


Para Cezimbra, da BB Investimentos, a perspectiva de produção é um problema maior que a defasagem:
— Não nos preocupamos tanto com a defasagem do combustível, pois prevemos que ela será reduzida com uma provável queda no preço internacional do petróleo. Vemos com mais preocupação o adiamento de refinarias e a falta de uma explicação razoável para o corte na expectativa de produção. Isso ficou incógnito para nós.


Quanto à OGX, há consenso de que o que houve foi frustração das expectativas dos investidores. Mas a reação deles também é vista como exagerada.
— De fato, houve discurso demais. Mas eu achei a desvalorização excessiva. A OGX tem bons poços, com viabilidade comprovada. Ela pode muito bem recuperar sua cadeia de produção — diz o analista da BB Investimentos.


Já a depreciação da HRT está relacionada à incerteza que envolve suas operações. Para Piagentini, da Coinvalores, seus papeis são mais voláteis pelo caráter embrionário da empresa. E Cezimbra classifica de indefinido o plano estratégico da petrolífera:
— A HRT precisa ainda definir seu plano estratégico. Seus ativos estão muito concentrados na África. Falta a empresa dizer mais claramente o que vai fazer com eles.


Analistas apostam em recuperação para o setor
Mas os analistas estão apostando que, no médio prazo, o dinheiro que evaporou vai se condensar em ganhos. Tanto a Coinvalores quanto a BB estão revendo o preço-alvo para a ação da Petrobras daqui a 12 meses. Segundo o analista Marco Barbosa, a primeira trabalha ainda com R$ 28, valor que, mesmo se for reduzido, proporcionará uma forte recuperação para a Petrobras (hoje o preço das ações ronda os R$ 19). Há outros ainda mais otimistas. O preço-alvo da Sociedade Corretora Paulista para a ação preferencial da Petrobras (PN, sem direito a voto) é de R$ 34. No fim de maio, o Bradesco e a Concordia estabeleceram em R$ 31 o preço alvo para o mesmo papel — que representariam aumento de 78% e 63%, respectivamente, no valor da empresa.


Para Barbosa e Piagentini, da Coinvalores, a postura mais realista da nova presidente da companhia, Maria das Graças Foster, contribuirá para um aumento dos papeis:
— Avaliamos como positiva a estratégia de ter os pés no chão expressa pela Graça Foster, pois a companhia mantinha uma tradição de metas ambiciosas sem conseguir cumpri-las.


Desde 2003 a produção da estatal não corresponde ao objetivo estabelecido pela empresa.
Em relação à OGX, a expectativa por recuperação é ainda mais alta. Após o tombo da semana passada, o Bradesco fixou um preço-alvo de R$ 11,40 daqui a 12 meses, e o HSBC o estipulou em R$ 16. A ação vale hoje menos de R$ 7. Mas, por outro lado, o Deutsche Bank aposta em um valor de apenas R$ 6 — ou seja, acha que a sangria de Eike Batista não para por aqui. O mesmo DB prevê que a ação da HRT valerá daqui a um ano R$ 8 (hoje vale R$ 6,45) e que a Queiroz Glavão estará cotada a R$ 14, quase o dobro do valor atual. Para a Braskem, a estimativa da Itaú BBA é de que o papel valerá R$ 19, contra os R$ 10 de hoje.
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