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quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS; veja FOTOS

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São mais de 50 fragmentos encontrados de partes do crânio, bico e fêmur. De acordo com os pesquisadores, o réptil viveu no mesmo período dos dinossauros e tem parentesco com os pterossauros, os répteis voadores.
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Por Mauricio Rebellato, RBS TV e g1 RS

Postado em 16 de agosto de 2023 às 15h10m

#.*Post. - N.\ 10.915*.#

Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS — Foto: Imagens cedidas CAPPA/UFSM
Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS — Foto: Imagens cedidas CAPPA/UFSM

Um estudo coordenado por paleontólogos do Rio Grande do Sul descobriu um fóssil de réptil pré-histórico, que viveu há 230 milhões de anos em um sítio arqueológico em São João do Polesine, na Região Central do estado. De acordo com os pesquisadores, o réptil, conhecido como Venetoraptor gassenae, viveu no mesmo período dos dinossauros e tem parentesco com os pterossauros, os répteis voadores.

São mais de 50 fragmentos encontrados de partes do crânio, bico e fêmur. A descoberta é destaque na edição desta quarta-feira (16) da revista Nature. A publicação é considerada uma das importantes de ciência do mundo.

"Esse fóssil foi descoberto em 2022. Aí ele passou por um processo de preparação, depois a gente analisa ele, junta dados para poder fazer a publicação, então é um estudo bem minucioso demora bastante. Além disso, ele passa por revisão de outros pesquisadores", explica o coordenador do Centro de Apoio a Pesquisas Paleontológicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rodrigo Temp Müller.

Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS — Foto: Imagens cedidas CAPPA/UFSM
Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS — Foto: Imagens cedidas CAPPA/UFSM

Os pesquisadores fizeram a reconstituição de como seria o esqueleto do Venetoraptor gassenae. O réptil tinha cerca de um metro de comprimento. O bico lembra o das aves de rapina e as garras eram longas e afiadas, característica que permitia ao animal segurar presas e escalar árvores.

"Eles tinham uma diversidade morfológica muito maior do que se imaginava. Então a gente derruba aquela ideia de que os precursores são animais simples fadados a extinção. A gente viu que existe uma diversidade muito maior e que a gente precisa explorar mais, para encontrar mais exemplares e completar esse quebra-cabeça evolutivo", complementa Müller.

O estudo contou com a participação de pesquisadores do Rio de Janeiro, da Argentina e dos Estados Unidos.

Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS — Foto: Imagens cedidas CAPPA/UFSM
Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS — Foto: Imagens cedidas CAPPA/UFSM

Região Central: abrigo de fósseis

A Região Central do RS é conhecida por abrigar alguns dos fósseis mais antigos do mundo. Desta vez, a descoberta foi no sítio arqueológico dentro de uma propriedade rural.

"Para nós, aqui da família Buriol, foi muito interessante. A gente deu um valor muito grande para isso, para todo mundo que nos conhece assim, né? Muito importante para nós", comemorou o agricultor Onélio Buriol.

As escavações continuam na região. Os estudiosos destacam que descobertas como essa ajudam a entender como era o ecossistema.

"Como viviam, o que faziam e, enfim, comparar com outros locais ao redor do mundo também", diz o pesquisador Mauricio Garcia.

Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS — Foto: Imagens cedidas CAPPA/UFSM
Fóssil de réptil que viveu há 230 milhões de anos é descoberto no interior do RS — Foto: Imagens cedidas CAPPA/UFSM

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terça-feira, 15 de agosto de 2023

'Titanic brasileiro': o naufrágio de 5 minutos do Príncipe de Astúrias, a maior tragédia marítima brasileira

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Naufragado em 1916 perto de Ilhabela (SP), transatlântico era considerado o navio mais luxuoso da Espanha e tinha estrutura de duplo casco, como o Titanic.
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TOPO
Por Simone Machado, BBC

Postado em 15 de agosto de 2023 às 12h15m

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O transatlântico era considerado o navio mais luxuoso da Espanha — Foto: DIVULGAÇÃO via BBC
O transatlântico era considerado o navio mais luxuoso da Espanha — Foto: DIVULGAÇÃO via BBC

Era madrugada de 5 de março de 1916 quando o transatlântico Príncipe de Astúrias passava pela costa de Ilhabela (SP) em direção ao porto de Santos (SP).

A bordo, oficialmente, estavam 588 pessoas, sendo 193 tripulantes. No entanto, estima-se que havia mais pessoas — imigrantes que viajavam sem registros.

A embarcação havia saído de Barcelona, na Espanha, com destino a Buenos Aires, na Argentina. Ela passaria por Las Palmas, Santos e Montevidéu até chegar ao seu destino.

O transatlântico era considerado o navio mais luxuoso da Espanha e tinha 150 metros de comprimento. Era composto por dezenas de confortáveis cabines, subdivididas em 1ª e 2ª classes, classe econômica e setor de imigrantes, que concentrava quase a metade das pessoas que estavam a bordo.

O navio tinha ainda: restaurante, biblioteca, deck com vidros de cristal e sala de música.

Além da separação por pavimentos, cada classe tinha a sua cozinha e seu restaurante próprio. Assim, a cozinha internacional e requintada da primeira classe servia um cardápio diferente dos demais, explica Plácido Cali, arqueólogo e historiador.

As famílias ricas ficavam nos camarotes especiais da primeira classe, com quarto, sala e banheiro com banheira. Enquanto o chamado setor de imigrantes não tinha luxo, com quartos pequenos e até mesmo sem janelas.

Os passageiros eram de várias origens. Além de espanhóis, em sua maioria, havia italianos, portugueses, brasileiros, franceses, sírios, turcos, argentinos e ingleses. Dentre esses passageiros, havia trabalhadores do comércio, jornaleiros, domésticas, artistas, agricultores, industriários, curtidores, cozinheiros, carpinteiros, sapateiro e estudantes, detalha o historiador.

A lista de passageiros do transatlântico registrada no Porto de Santos — Foto: MUSEU NÁUTICO DE ILHABELA/PLÁCIDO CALI/via BBC
A lista de passageiros do transatlântico registrada no Porto de Santos — Foto: MUSEU NÁUTICO DE ILHABELA/PLÁCIDO CALI/via BBC

Naufrágio durou 5 minutos

Já fazia 16 dias que o Príncipe de Astúrias estava em alto mar. Era uma segunda-feira de carnaval. Durante a noite, havia ocorrido um baile e os tripulantes dançaram marchinhas no salão principal do navio.

Naquela madrugada, chovia muito e a visibilidade estava péssima até mesmo para o experiente capitão José Lotina. Era a oitava viagem dele no comando do Príncipe de Astúrias.

O historiador conta que foram encontrados registros de várias passagens do Príncipe de Astúrias pelo litoral do Brasil.

Os documentos da 'Inspectoria de Immigração no Porto de Santos' registram a passagem do Príncipe de Astúrias em outubro e novembro de 1914, janeiro, março, maio, julho, setembro e novembro de 1915; janeiro e março de 1916, a última viagem dele, explica.

Uma das alternativas encontradas por Lotina para fugir da tempestade e melhorar a navegabilidade naquela madrugada foi mudar a rota. Em vez de seguir em mar aberto em direção a Santos (SP), ele ordenou que um desvio fosse feito. Ele não sabia que a nova rota ia em direção à parte mais rasa do mar e que ali havia uma área de corais.

Às 4h15, o luxuoso transatlântico bateu em formações rochosas na área da Ponta da Pirabura, na costa de Ilhabela (SP). O choque danificou sua estrutura, abrindo uma fenda de aproximadamente 40 metros no casco. Em poucos minutos, a casa de máquinas do navio foi inundada, causando a explosão das caldeiras, que partiu a embarcação em três pedaços.

Em cinco minutos, a tragédia aconteceu: o Príncipe de Astúrias naufragou e levou à morte mais de 440 pessoas, o que rendeu ao transatlântico o apelido de "Titanic brasileiro.

Para se ter uma ideia da rapidez do naufrágio, o Titanic levou mais de duas horas para afundar completamente.

Foram resgatadas 143 pessoas que estavam no Príncipe de Astúrias e diversos cadáveres foram retirados do mar por um navio inglês que passou pelo local após a tragédia.

Mais de um século depois, a razão do naufrágio do Príncipe de Astúrias ainda é motivo de controvérsia.

O corpo do capitão José Lotina nunca foi encontrado, assim como o de seu primeiro oficial, Antônio Salazar Linas.

Especula-se que havia imigrantes europeus sendo transportados clandestinamente porque o número de sepulturas encontradas nas praias passou de mil.

O Príncipe de Astúrias

O salão de música do navio — Foto: Divulgação via BBC
O salão de música do navio — Foto: Divulgação via BBC

O navio foi construído na Escócia, dois anos antes do naufrágio, em 1914, sob encomenda de uma companhia espanhola.

Ele tinha uma estrutura de duplo casco, assim como o Titanic. Essa tecnologia, na época, era considerada capaz de tornar a viagem mais rápida e segura.

O transatlântico era um navio misto: transportava pessoas e também cargas.

Na viagem que resultou na tragédia, além dos passageiros e tripulantes, a embarcação estava carregada com fios elétricos, vinho português, metais como estanho e cobre, e também 12 estátuas de mármore e bronze que tinham como destino o Monumento dos espanhóis (La Carta Magna y las Cuatro Regiones Argentinas), em Buenos Aires.

Acredita-se também que no navio havia 40 mil libras-ouro, porém elas nunca foram encontradas.

Veja a lista completa dos itens que estavam sendo transportado pelo transatlântico no dia da tragédia:

  • 12 estátuas de bronze, destinadas ao Monumento dos espanhóis, do Parque Palermo, em Buenos Aires;
  • 1.470 toneladas de peças de cobre; 668 toneladas de estanho; 25 toneladas de tungstênio; 150 toneladas de vanádio;
  • 106 toneladas de cromite; 490 toneladas de fios elétricos de alta tensão; 260 toneladas de chapas de cobre; 960 toneladas de chumbo; 450 toneladas de aços especiais; 80 garrafões de mercúrio.
  • Arsenal destinado à Marinha Argentina: 14 hélices de bronze de duas toneladas e nove hélices de uma tonelada; 20 âncoras de ferro de duas toneladas, 14 de uma tonelada e, ainda, 900 toneladas de correntes de ferro.
  • Fardos de cortiça.
Mergulho difícil

Hoje, mais de 100 anos depois do naufrágio, muitos dos destroços do navio estão em uma profundidade de 9 a até 30 metros, no litoral norte de São Paulo, e é possível mergulhar no local para vê-los.

No entanto, a área é um ponto de mergulho desafiador devido à movimentação da água no local.

Além disso, a cor turva deixa o local onde estão os destroços mais escuro, o que pode confundir os mergulhadores – especialistas alertam para o risco de entrar nos destroços do navio sem perceber e se perder no local. Apenas profissionais experientes conseguem acessar a área.

Assim, durante os mergulhos, é difícil ver os restos do transatlântico com clareza. Entretanto, ainda é possível avistar itens que compunham o cenário, como banheiras, chuveiros e até mesmo encontrar itens que eram levados a bordo, como pratos e outros utensílios.

Mergulhador profissional há 35 anos, João Paulo Franco, de 52 anos, mais conhecido como Johnny, já visitou os destroços do Príncipe de Astúrias seis vezes.

É um mergulho difícil porque é um local em que a água sempre está muito mexida, mesmo quando o mar está tranquilo. Mas é uma experiência muito interessante, é possível identificar onde eram a primeira e segunda classes, encontrar itens como as banheiras que tinham as cabines, e ver a parte das caldeiras e os porões. É um verdadeiro mergulho na história, diz.

Materiais recuperados compõem museu

Museu Náutico foi inaugurado em Ilhabela em 2022 — Foto: MUSEU NÁUTICO DE ILHABELA/PLÁCIDO CALI/via BBC
Museu Náutico foi inaugurado em Ilhabela em 2022 — Foto: MUSEU NÁUTICO DE ILHABELA/PLÁCIDO CALI/via BBC

Muitas dessas relíquias que estavam no Príncipe de Astúrias foram retiradas dos escombros pelos mergulhadores ao longo dos anos.

Elas e diversos itens encontrados na época do naufrágio por moradores do litoral compõem o Museu Náutico, que foi inaugurado em Ilhabela, em junho de 2022.

No museu, é possível encontrar talheres e pratos utilizados pelos hóspedes a bordo e até mesmo bonecas pertencentes a meninas que estavam viajando.

Também foi recuperada uma das 12 estátuas de bronze, destinadas ao Monumento dos espanhóis, do Parque Palermo, em Buenos Aires. Hoje ela está no Museu da Marinha, no Rio Janeiro (RJ). Há mais peças retiradas do navio Príncipe de Astúrias, no momento em poder de particulares, e é objeto de Inquérito Civil e de processo no IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, para que esse material seja destinado ao Museu de Ilhabela, explica o historiador.

Cerca de 85 mil visitantes já passaram pelo museu desde a inauguração.

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segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Aumento da temperatura no planeta: Pesquisadores brasileiros que estiveram no Ártico falam sobre degelo;

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'Muito maior do que esperávamos encontrar' Professores de Brasília foram ao Polo Norte na primeira expedição brasileira oficial, em julho, e presenciaram mudanças climáticas. Cientistas estão preocupados com possibilidade de gelo marinho desaparecer; entenda.
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Por Caroline Cintra, g1 DF

Postado em 14 de agosto de 2023 às 07h00m

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Calor e degelo no Ártico — Foto: Paulo Câmara
Calor e degelo no Ártico — Foto: Paulo Câmara

Pesquisadores que estiveram na primeira expedição brasileira oficial ao Círculo Polar Ártico foram surpreendidos pelas condições climáticas que encontraram na região: calor e degelo. A viagem foi em julho e três professores de Brasília participaram — dois deles estiveram no Polo Norte também em 2016.

"[Em 2016] estava sempre chovendo e sempre muito frio. Em 2023 estava um clima totalmente diferente. Nós tivemos dias que chegamos a usar mangas curtas. Pegamos dias com 10ºC. Foi muito quente mesmo, muito diferente do que imaginávamos e esperávamos encontrar", conta a professora Micheline Carvalho Silva, do departamento de Botânica da Universidade de Brasília (UnB).

Os cientistas estão preocupados com a possibilidade de o gelo marinho desaparecer em poucos anos, as previsões são pessimistas já para o verão de 2030. Um estudo recente na revista Nature Communications, que analisou mudanças de 1979 a 2019 na região, comparando diferentes dados de satélite e modelos climáticos, revelou que, mesmo se forem feitos cortes significativos nas emissões de gases de efeito estufa, o Ártico ainda poderia enfrentar verões sem gelo marinho até 2050.

Diferenças encontradas entre 2016 e 2023
Professora do Departamento de Botânica da UnB Micheline Carvalho Silva durante expedição no  Ártico — Foto: Arquivo pessoal
Professora do Departamento de Botânica da UnB Micheline Carvalho Silva durante expedição no Ártico — Foto: Arquivo pessoal

A professora Micheline Carvalho Silva esteve no Ártico em 2016. Ela conta que, à época, "era um lugar que chovia muito e era bastante frio". Por causa do clima, usavam roupas pesadas e o topo das montanhas eram tomados por neve, mesmo não sendo época de nevasca.

Neste ano, os pesquisadores se depararam com o solo seco e nenhum dia de chuva. "Era sol todos os dias. Sim, batia um ventinho, mas não era um vento muito frio", diz a pesquisadora.

"A gente conseguiu perceber que os topos das montanhas estavam bem descongelados, e tivemos a oportunidade de visitar uma geleira. A geleira está retraindo com o derretimento. Ela ainda existe, mas é uma geleira pequena" conta Micheline.

Calor e degelo no Ártico — Foto: Paulo Câmara
Calor e degelo no Ártico — Foto: Paulo Câmara

Também do Departamento de Botânica da UnB, o professor Paulo Câmara também esteve no Ártico nos dois períodos. Ao comparar as duas idas ao Polo Norte, ele afirma que a impressão que teve é que "agora está muito mais seco".

"Agora está muito mais quente, tem muito menos água, muito menos neve, muito menos gelo. A gente talvez até tenha que retornar lá para coletar amostra de neve e gelo, que não encontramos. Não foi possível coletar", conta o professor.

Segundo Câmara, o clima no Ártico, agora, é quase um "semiárido". "O aumento da temperatura no Ártico é bem documentada já, né? Não é uma novidade, isso já é um assunto conhecido da comunidade científica, levando esse derretimento que existe lá, a abrir novas rotas comerciais. As navegações agora vão poder passar por regiões no Ártico que não podiam passar antes. O que vai encurtar a distância".

"Nosso grupo de pesquisa está interessado em entender essas mudanças porque acreditamos que processos semelhantes estão começando a acontecer também na Antártica. Isso, certamente, afeta a vida de todos aqui no Brasil, uma vez que o Brasil é o sétimo país mais próximo da Antártica", diz o professor. 
Clima atípico

Pesquisadores durante primeira expedição brasileira ao ÁrticoPesquisadores durante primeira expedição brasileira ao Ártico

O professor Marcelo Ramada, da Universidade Católica de Brasília, conta que os pesquisadores foram preparados para o verão do Ártico, que tem temperatura média entre 2ºC e 4ºC, semelhante ao que já viram durante expedição na Antártica, com alguns dias a 0ºC. "Não foi isso que a gente vivenciou, foi bem atípico".

"Até olhamos a previsão do clima antes de irmos. Eu vi que realmente a previsão estava até 10ºC, 11ºC, o que eu já achei um pouco alto. Mas assim, o que a gente vivenciou foi ainda mais alto do que isso. É bem chocante a gente ver realmente as imagens dos locais", diz o pesquisador.

Com a mudança climática, Ramada reforça a importância da preservação e conservação do meio ambiente. "É cuidar de uma forma da gente poder evitar alguns possíveis desastres futuros. Porque, querendo ou não, se você tem um total descongelamento da Antártica, por exemplo, que é o local onde temos mais de 50% de toda água potável do mundo e, de repente, isso se torna uma água que vai para o oceano, os níveis dos oceanos vão subir absurdamente. Então, várias regiões costeiras certamente desaparecerão, tornando uma situação catastrófica".

"Uma coisa que até o professor Paulo Câmara fala bastante é que a Antártica pode se tornar um dos poucos locais de terra do mundo ainda habitáveis, dependendo do nível de aquecimento que a gente tiver. Só que assim, lógico, isso é bem catastrófico. Não seria algo para nossa geração. Mas nós não vivemos e planejamos coisas fazendo ciência pensando apenas na nossa geração. A gente sempre tem que pensar isso também para o futuro", diz o professor.
'Era da fervura global': gráficos mostram 'oceanos com febre', recordes de calor e gelo derretendo, tudo agora
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domingo, 13 de agosto de 2023

O que aconteceria se pudéssemos lembrar de absolutamente tudo?

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Três especialistas em psicologia explicam por que ter uma memória muito grande pode não ser tão bom quanto alguns podem pensar.
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TOPO
Por Pedro Raúl Montoro Martínez, Antonio Prieto Lara e Julia Mayas Arellano, BBC

Postado em 13 de agosto de 2023 às 07h45m

 #.*Post. - N.\ 10.912*.#

Você gostaria de recordar cada detalhe da sua vida? — Foto: GETTY IMAGES
Você gostaria de recordar cada detalhe da sua vida? — Foto: GETTY IMAGES

Lembrar de absolutamente tudo seria incrível, não é? Funes, o memorioso, pode não ter a mesma opinião.

Aos 19 anos, ele bateu a cabeça com força ao andar a cavalo e, quando voltou a si, percebeu que havia adquirido o incrível talento (ou talvez a maldição) de lembrar tudo o que percebia ao seu redor.

Essas memórias não eram simples; cada imagem visual estava ligada a sensações musculares, térmicas e assim por diante. Podia reconstruir todos os sonhos, todos os entressonhos. Duas ou três vezes havia reconstruído um dia inteiro; nunca havia duvidado, mas cada reconstrução exigia um dia inteiro. No entanto, Funes não era muito capaz de pensar. Pensar é esquecer as diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo lotado de Funes só havia detalhes, quase imediatos.

Salomão, o memorável

📕Na realidade, Funes nunca existiu. Ao menos fora da mente prodigiosa do escritor argentino Jorge Luis Borges e do conto "Funes, o memorioso", publicado em 1942.

Mas, por mais extraordinário que possa parecer, houve alguém muito parecido no mundo real.

💭Estamos falando de Solomon Shereshevski, um mnemonista profissional russo que viveu em Moscou na primeira metade do século 20 e que foi estudado pelo neuropsicólogo Alexander R. Luria.

Seu livro "A mente de um mnemonista" (1968) descreve exaustivamente esse caso e é considerado uma joia da literatura científica.

Shereshevski conseguia lembrar com precisão longas sequências de letras, números e palavras que mostravam para ele apenas uma vez, mesmo décadas depois, e sem erros.

📷A memória de Solomon poderia ser descrita como fotográfica, pois tudo que ele via, lia ou ouvia se transformava em uma memória que ele percebia claramente com o olho de sua mente, como se estivesse realmente vendo.

O livro que o neuropsicólogo soviético Alexander Luria escreveu sobre Solomon Shereshevsk — Foto: UNIVERSIDADE DE HARVARD
O livro que o neuropsicólogo soviético Alexander Luria escreveu sobre Solomon Shereshevsk — Foto: UNIVERSIDADE DE HARVARD

Ele também fazia cópias das informações em formatos sensoriais diferentes do original, fenômeno conhecido como sinestesia.

O próprio Salomão descreveu como se lembrava das listas de palavras:

Normalmente sinto o sabor e o peso da palavra… e não tenho mais nada o que fazer, ela se lembra de si mesma. Sinto uma coisa amanteigada escorregar pela minha mão, feita de vários pontos muito muito claros, que formigam um pouco a minha mão esquerda e já não preciso mais.
— Solomon Shereshevski

No entanto, Salomão tinha uma incapacidade de extrair o significado de textos longos, de entender os duplos sentidos de poesias, piadas ou provérbios e até de fazer raciocínios lógicos e matemáticos.

Além disso, Shereshevski tinha dificuldade para lembrar rostos e vozes de outras pessoas.

Podemos tirar uma conclusão desse caso: uma memória superlativa não parece implicar maior inteligência ou melhor capacidade de raciocínio lógico ou abstrato.

William James, um dos pais da psicologia contemporânea, já havia apontado no final do século XIX: "Se nos lembrássemos de tudo, seríamos tão deficientes na maioria das vezes como se não lembrássemos de nada... O resultado paradoxal é que uma condição para lembrar é que devemos esquecer.

Outro caso bem conhecido parece apoiar a ideia de que uma maior capacidade de memória não necessariamente leva a uma memória melhor.

Nascida em 1965, Jill Price é uma americana que consegue lembrar, com riqueza de detalhes e com a mesma intensidade emocional da primeira vez, tudo o que aconteceu em sua vida.

Essa condição é conhecida como hipertimesia e envolve uma memória autobiográfica exacerbada, que se torna disfuncional e patológica.

O principal problema é que Jill não controla o acesso a essas memórias, em vez disso, elas a sobrecarregam quando ela se depara com um encontro ou outras memórias vinculadas.

A maioria das pessoas considera isso uma bênção, mas eu chamo de fardo, explica ela. "Todos os dias eu repasso toda a minha vida na minha cabeça e isso está me deixando louca."

Jill Price gostaria de poder esquecer algumas coisas — Foto: GETTY IMAGES
Jill Price gostaria de poder esquecer algumas coisas — Foto: GETTY IMAGES

Ela ainda consegue se lembrar de cada uma das vezes em que sua mãe lhe disse que ela estava engordando na adolescência, com o mesmo fardo emocional que sentia então.

A memória dela se tornou uma enciclopédia de arrependimentos que a persegue frequentemente.

O caso de Jill Price foi exaustivamente investigado pela disciplina de neuropsicologia e ela mesma escreveu um livro contando sua história.

Os testes de inteligência apontaram que ela tem uma capacidade intelectual normal, embora sejam detectadas algumas deficiências no pensamento abstrato e outras funções executivas.

Como podemos ver, uma memória ilimitada não nos torna mais inteligentes ou, infelizmente, mais felizes.

As pessoas costumam dizer que o tempo cura tudo, mas no caso de Jill Price, os momentos ruins de sua vida estão sempre vivos em sua cabeça.

Os campeões mundiais da memória

📄Um caso bem diferente é o dos mnemonistas profissionais, aquelas pessoas que memorizam longas listas de números, palavras ou datas a uma velocidade vertiginosa em "campeonatos da memória".

Por mais surpreendente que pareça, a maioria desses "prodígios" não tem uma memória qualitativamente diferente de qualquer um de nós.

Na verdade, eles atingem esse grande desempenho de memória treinando várias horas por dia durante anos.

👉A história de Joshua Foer, um jornalista seduzido pelo assunto ao fazer uma reportagem e que, um ano depois, foi proclamado vencedor do United States Memory Championship 2006, é bastante ilustrativa.

Qual era o seu segredo? O treinamento maciço em regras mnemônicas, conforme descrito em seu divertido livro "Os desafios da memória".

A memória pode ser treinada — Foto: GETTY IMAGES
A memória pode ser treinada — Foto: GETTY IMAGES

O curioso é que, além das informações específicas para as quais são treinados, esses profissionais cometem os mesmos erros de memória que os demais mortais.

Eles esquecem onde estacionaram o carro ou o aniversário de um amigo como qualquer outra pessoa. Na verdade, os casos de memória fotográfica genuína são tão extraordinários que não representam um fenômeno estatisticamente relevante na população.

Se lembre de esquecer

🤔Voltamos à pergunta do início: o que aconteceria se pudéssemos nos lembrar de absolutamente tudo?

A pergunta é interessante porque nos permite questionar a própria natureza desse processo mental tão importante em nossas vidas.

A memória não é um registro preciso e muito menos literal da realidade, nem um arquivo histórico do passado.

Não é reprodutivo, mas reconstrutivo: abstrai, resume, esquematiza, constrói e generaliza a partir do momento em que a informação é adquirida.

🧠Assim que lemos ou ouvimos um texto, esquecemos muito das palavras reais que foram usadas. É assim que destilamos a essência da mensagem, o nuclear, o simbólico, o interessante.

Esquecer é tão importante quanto se recordar, apontam especialistas — Foto: GETTY IMAGES
Esquecer é tão importante quanto se recordar, apontam especialistas — Foto: GETTY IMAGES

A memória se desvincula dos detalhes, se torna abstrata, se torna semântica desde o início de sua obra. Essa é a maneira pela qual uma memória saudável e ativa se adapta às demandas de um ambiente em mudança.

A memória fotográfica, nos pouquíssimos casos descritos pela ciência, pode ser considerada uma aberração, por excesso, da memória. Ou melhor, uma aberração do esquecimento.

Porque esquecer, apesar de sua má impressão, é tão necessário quanto recordar para permitir que a memória use as informações do passado de forma adaptativa para viver no presente e antecipar o futuro.

Então agora você já sabe: nunca esqueça de lembrar de esquecer.

*Pedro Raúl Montoro Martínez e Julia Mayas Arellano são professores titulares e Antonio Prieto Lara é professor assistente PhD no Departamento de Psicologia Básica da Universidade Nacional de Educação a Distância (UNED) em Madrid, na Espanha

Este artigo foi publicado originalmente no The Conversation e foi compartilhado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia o texto original aqui.

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