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domingo, 9 de outubro de 2022

Os corpos preservados em pântanos que podem revelar mistério de sacrifícios humanos na Europa

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Corpos excepcionalmente bem preservados do mundo antigo costumam aparecer na superfície dos pântanos do norte da Europa – e o mais estranho é a assustadora forma das suas mortes.
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TOPO
Por BBC

Postado em 09 de outubro de 2022 às 08h00m

 #.*Post. - N.\ 10.498*.#

Atenção: esta reportagem contém detalhes que podem ser sensíveis para alguns leitores.

Corpos da Idade do Ferro em bom estado de conservação foram encontrados em toda a Europa, incluindo os restos do Homem de Oldcroghan (foto), na Irlanda.  — Foto: Alamy via BBC
Corpos da Idade do Ferro em bom estado de conservação foram encontrados em toda a Europa, incluindo os restos do Homem de Oldcroghan (foto), na Irlanda. — Foto: Alamy via BBC

Em maio de 1983, Andrew Mould encontrou um objeto sólido arredondado, enterrado na turfa em um pântano chamado Lindow Moss em Cheshire, no noroeste da Inglaterra. O objeto lembrava uma antiga bola de futebol feita de couro, mas um olhar mais atento revelou que se tratava de algo muito mais assustador.

"Nós limpamos tudo e sabíamos que era um crânio", segundo Mould. No seu interior, havia até uma substância amarelada que ele soube depois que se tratava dos restos do cérebro.

Encontrar restos humanos no pântano não é totalmente uma surpresa. Há séculos existem relatos de partes de corpos vindas à superfície em pântanos similares a Lindow Moss em todo o norte da Europa.

O corte de turfa era o negócio familiar de Mould. Muitos dos seus parentes trabalhavam no pântano e ele viajava para Lindow Moss desde que era criança para ver seu pai cortar a turfa.

Mould já havia lido sobre esses casos e ele próprio havia encontrado "pedaços" de corpos durante o seu trabalho, mas este caso era diferente. Ele então fez o que a maioria das pessoas faria e informou a polícia.

Havia já mais de 20 anos que a polícia de Cheshire suspeitava que um morador local, Peter Reyn-Bardt, teria assassinado sua esposa Malika de Fernandez, mas o corpo dela nunca havia sido encontrado. Encontrar um corpo, ou parte dele, vindo à superfície no pântano próximo poderia finalmente encerrar o caso.

E, quando a polícia de Cheshire contou a Reyn-Bardt que o crânio de uma mulher havia sido desenterrado em Lindow Moss, ele confessou ter matado sua esposa. "Foi há tanto tempo que eu achei que nunca seria descoberto", disse ele aos investigadores.

O que Reyn-Bardt não sabia é que o crânio não era da sua esposa morta. Na verdade, ele pertenceu a uma mulher que havia vivido cerca de 1.600 anos antes. Por isso, enquanto a polícia encerrava um caso, os arqueólogos abriam outro, muito mais misterioso.

Nas profundezas aquosas ácidas do pântano, com baixo teor de oxigênio, bactérias e outros micro-organismos não conseguem decompor tecidos orgânicos. Por isso, restos biológicos permanecem efetivamente em suspensão por milhares de anos.

No caso da Mulher de Lindow, como ela ficou conhecida, o pântano chegou a preservar até um globo ocular, além do seu cérebro.

Existem muitos outros como ela. Em todo o norte da Europa, o mesmo processo que transforma musgos em turfa conserva restos humanos na forma de corpos do pântano.

Essas pessoas vêm sendo enterradas em pântanos da Irlanda até a Alemanha desde o ano 2000 a.C. - embora tenham sido encontrados esqueletos sem tecidos moles que foram datados até 8500 a.C.

Os arqueólogos suspeitam que haja algo de incomum em muitos dos corpos dos pântanos, além da sua extraordinária preservação.

Ser enterrado naquele período da história não era comum. Os enterros formais eram raros na Europa durante a Idade do Ferro. Os mortos muitas vezes eram cremados, recebiam funerais a céu aberto ou uma série de práticas diversas e criativas.

Muitos dos corpos do pântano eram de jovens adultos, adolescentes e crianças, aparentemente em forma e saudáveis. Alguns estavam nus, exceto por algum pedaço de corda, chapéu ou casaco bem preservado. Às vezes, as roupas eram enterradas separadamente dos corpos em locais próximos no pântano.

Mas, acima de tudo, muitos dos corpos haviam sofrido mortes extremamente violentas. E, como os métodos de exame forense dos corpos do pântano avançaram rapidamente nos últimos anos, estamos começando a descobrir os mistérios sobre esses corpos e quem eles eram, na vida e na morte.

Depois da Mulher de Lindow, outra descoberta feita ao acaso no mesmo pedaço de turfa ajudou a reformular o estudo de corpos do pântano na Europa. A descoberta foi feita por alguém que já é nosso conhecido - novamente, Andrew Mould.

No verão seguinte à descoberta da Mulher de Lindow, Mould estava trabalhando na esteira da máquina de moer turfa quando um torrão sólido escuro caiu aos seus pés.

"Pensamos inicialmente que fosse um pedaço de madeira do pântano", relembra Mould. Mas, quando ele pegou o torrão, sentiu o que parecia ser o couro de uma bolsa.

Ele mostrou para um colega. "Foi aí que limpamos um pouco e vimos as unhas dos dedos dos pés."

Nos dias que se seguiram, uma cabeça inteira e o dorso foram cuidadosamente escavados (mesmo que, desta vez, a polícia de Cheshire não tenha resolvido nenhum outro caso pendente). O Museu Britânico concluiu que o corpo era de um homem na casa de 20 anos de idade, com cerca de 1,73 m e 64 kg, que havia vivido perto do século 1° d.C.

"O espetacular a respeito dele é que ele quase foi morto por três vezes", afirma Miranda Aldhouse-Green, professora emérita da Faculdade de História, Arqueologia e Religião da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, e autora do livro Bog Bodies Uncovered ("Corpos do pântano descobertos", em tradução livre).

"Ele recebeu uma morte prolongada muito específica por alguém que conhecia a anatomia humana", explica ela. "Ele foi atingido na cabeça com força suficiente para atordoá-lo, mas não matá-lo. Ele foi então estrangulado e, ao mesmo tempo, teve sua garganta cortada."

Por que um assassinato tão brutal? O excesso de violência usado para executar o Homem de Lindow indica algo muito mais incomum que um assassinato "normal", segundo Aldhouse-Green.

Lugares sagrados

Para entender o destino dos corpos do pântano, é preciso primeiro compreender o pântano na Idade do Ferro e na Europa do Império Romano.

"Nós consideramos os pântanos como espaços vazios", segundo Melanie Giles, professora sênior de arqueologia da Universidade de Manchester, no Reino Unido, e autora de Bog Bodies: Face to Face with the Past ("Corpos do pântano: cara a cara com o passado", em tradução livre). "Não é assim que as pessoas da Idade do Ferro os viam."

"Eles retiravam combustível do pântano, cortando turfa e retirando minério de ferro", explica ela. "Eles produziam instrumentos e armas como caldeirões e espadas. Eles retiravam o musgo e teciam artigos extraordinários com ele. Eles caçavam as aves que viviam ali. Os pântanos eram lugares ricos e produtivos para as pessoas da Idade do Ferro."

E existe o fato de que o pântano é uma região de fronteira, entre a terra e a água.

"Acho que os pântanos também são muito especiais porque eles são repletos de miasmas", afirma Aldhouse-Green. "Eles têm vapores que saem deles e, às vezes, entram em combustão espontânea. Eles podem ter odores fortes. Eles parecem terra, mas não são terra. Eles podem ter sido compreendidos como sendo portais para o outro mundo e portais para os deuses."

Até hoje, os pântanos elevados podem ser hipnotizantes, segundo Ole Nielsen, diretor do Museu Silkeborg em Hovedgården, na Dinamarca. Para ele, "realmente não é necessário fantasiar muito para imaginar que existem mais forças atuando do que você pode ver na realidade."

Giles afirma que análises detalhadas das vizinhanças do local onde foi encontrado o Homem de Lindow demonstraram que, muito provavelmente, ele estava vivo quando adentrou pela última vez naquele ambiente de passagem.

Usando dados do Sistema de Informações Geográficas (GIS, na sigla em inglês) para mapear o pântano, os pesquisadores concluíram que o Homem de Lindow foi enterrado na sua parte mais profunda.

Conduzir uma pessoa morta ou atordoada até aquele local teria sido extremamente difícil naquele terreno traiçoeiro. "Como é muito perigoso chegar até aquele ponto, provavelmente ele estava vivo enquanto era transportado", segundo Giles.

Os detalhes das suas lesões fatais apontam nessa direção. "O assassino era grande conhecedor da anatomia humana e sabia como manter aquela pessoa pairando entre a vida e a morte por muito tempo", explica Aldhouse-Green. "Quando ele foi empurrado com o rosto para baixo contra o pântano, ele ainda estava respirando, pois havia água nos seus pulmões."

Última refeição

Outros sinais vêm do estômago do Homem de Lindow. Análises meticulosas da sua última refeição revelam um prato muito simples à base de cevada, talvez um pouco torrado demais.

"A última coisa que ele comeu antes de morrer foi um alimento realmente muito simples", segundo Sophia Adams, curadora do Período da Idade do Ferro Europeia e da Conquista Romana do Museu Britânico. "Ele comeu o que chamamos de pão na chapa."

A falecida acadêmica celta Anne Ross, que realizou importantes trabalhos iniciais com o Homem de Lindow, argumentava que esse pão na chapa, feito de cevada e parcialmente queimado, revela algo sobre o seu destino.

Entre as classes sacerdotais britânicas daquela era, o pão na chapa era usado em uma cerimônia muito similar ao jogo dos palitos. As pessoas retiravam pedaços de pão na chapa de um saco e quem tirasse o pedaço queimado e torrado era escolhido como bode expiatório.

E o pão na chapa do Homem de Lindow também continha traços de outra planta denunciadora: o visco. Ross argumenta que isso indica relação com os antigos druidas, que eram conhecidos por realizar rituais de coleta de visco.

Aldhouse-Green destaca que o visco era conhecido na Antiguidade como planta medicinal para distúrbios nervosos e "pode ter sido administrado ao homem de Lindow para acalmá-lo e deixá-lo mais submisso frente à sua morte terrível".

Outros corpos do pântano também contam últimas refeições incomuns. Um corpo dinamarquês conhecido como Homem de Grauballe é o de um agricultor da Idade do Ferro que viveu em cerca de 390 a.C., no centro da Dinamarca.

Sua última refeição incluiu mais de 60 tipos diferentes de vegetais, amassados em um mingau intragável de cereais, ervas com sabor amargo e mais de 13 espécies de grama.

"Você tem muitas sementes e plantas de uma área bastante ampla reunidas nessa refeição, o que indica muito conhecimento daquele território e sugere que era um ritual representado no sacrifício", afirma Aldhouse-Green. "Mas você pode interpretar esta última refeição de uma infinidade de formas. Pode também ter sido uma forma de humilhação."

O Homem de Grauballe também teve uma substância psicoativa acrescentada à sua última refeição - mas, neste caso, a intenção pode ter sido qualquer uma, menos de acalmá-lo.

Traços de toxinas alcaloides no intestino revelaram que sua última refeição incluiu o esporão-do-centeio, um fungo que cresce nas espigas de cereais como centeio e cevada. Em doses altas, o envenenamento com esse fungo causa alucinações e efeitos terríveis, conhecidos como Fogo de Santo Antônio. Eles incluem parada circulatória, sensação de queima e perda das extremidades por gangrena.

Mas, nos níveis encontrados no trato digestivo do homem de Grauballe, o efeito teria sido mais suave.

"Ele pode ter causado um comportamento muito estranho logo após a ingestão", afirma Aldhouse-Green. "O fungo teria feito com que ele fizesse movimentos desordenados, sentisse muito calor e gritasse. Ele estaria à beira de um fenômeno psicótico extremo e, possivelmente, isso era parte das preliminares rumo ao sacrifício."

Na Idade do Ferro, os pântanos elevados eram repletos de ricos recursos, desde turfa para queima como combustível até minério de ferro para fazer caldeirões, escudos e armas.  — Foto: Alamy via BBC
Na Idade do Ferro, os pântanos elevados eram repletos de ricos recursos, desde turfa para queima como combustível até minério de ferro para fazer caldeirões, escudos e armas. — Foto: Alamy via BBC

Características distintas

Entre os corpos descobertos nos pântanos, existe um alto percentual de pessoas com características físicas diferentes que podem ter chamado a atenção na sua comunidade, segundo Miranda Aldhouse-Green.

A Menina de Yde, por exemplo, que viveu 2 mil anos atrás e morreu no pântano de Stijfveen, na Holanda, tinha curvatura pronunciada da espinha, que deve ter causado dores crônicas e provavelmente um andar cambaleante.

Outro corpo do pântano holandês da mesma época, a Mulher de Zweeloo, tinha uma forma de nanismo. E, no Reino Unido, o terceiro corpo antigo encontrado em Lindow Moss (conhecido como Lindow III) tinha um vestígio de um segundo polegar na mão direita.

"Existe a possibilidade de que as deficiências físicas não fossem exatamente comemoradas, mas sim marcadas como algo especial e poderoso, possivelmente associado a ser tocado ou abençoado pela divindade", afirma Aldhouse-Green.

Mas ela salienta que não podemos ter certeza de como as diferenças físicas eram percebidas na Antiguidade e essas teorias são apenas especulativas.

Ética na exibição

Os corpos dos pântanos da Europa têm sido frequentemente exibidos em museus após sua escavação e preservação cuidadosa.

Mas surgiram controvérsias sobre a exibição pública dos corpos. Uma exibição itinerante em Ottawa, no Canadá, enfrentou reações negativas por exibir os restos humanos.

Melanie Giles, da Universidade de Manchester, argumenta que a exibição criteriosa dos restos humanos pode ajudar a criar emoções íntimas e laços sociais entre os corpos dos pântanos e as pessoas que os observam.

Ritual da morte

Talvez o rosto mais bem preservado de todo o mundo antigo seja o do Homem de Tollund, um corpo do pântano encontrado na Dinamarca em maio de 1950. Atualmente, ele repousa em posição fetal no Museu Silkeborg.

Como ocorre com muitos desses corpos, os ácidos do pântano transformaram a cor da sua pele em um tom preto-azulado. Seus pelos e cabelos ficaram com cor laranja brilhante, embora ele esteja usando um chapéu de pele de carneiro que cubra a maior parte.

Todas as linhas finas e quase todos os poros da pele são visíveis. Suas pálpebras enrugadas estão fechadas, dando a ilusão de um sono pacífico.

"Você consegue realmente conhecer essa pessoa", afirma Ole Nielsen. "O rosto é a parte do corpo que detém a maior expressão do corpo humano. E é realmente fascinante conhecer um homem da Idade do Ferro, com mais de 2 mil anos de idade, que parece poder despertar a qualquer momento."

Além do seu chapéu de pele de carneiro, o Homem de Tollund foi enterrado vestindo apenas um cinto de tecido na cintura e uma corda em volta do pescoço.

"Se ele estivesse vestido com alguma roupa de lã, ela teria sido preservada, sem dúvida", segundo Nielsen. Os ácidos do pântano preservam colágeno e queratina, que estão presentes em materiais como a lã. "Os seus cabelos ainda estão ali, suas unhas estão ali."

Também não há marcas de roupas na superfície da pele do Homem de Tollund.

"Nós realmente examinamos seu corpo com muito cuidado, usando microscópios. Ainda existem muitas folhas de musgo que podem ser observadas no corpo, mas nada que indique que houvesse alguma outra coisa sobre ele. Por isso, provavelmente ele foi morto como nós o vemos. É realmente muito inusitado vê-lo nu com um chapéu", explica Nielsen.

No seu conjunto, as condições do homem de Tollund indicam um ritual da morte. "Para o sacrifício, ele foi barbeado e colocado no pântano com a corda do enforcamento", destaca Nielsen.

Ele acredita que deixar a corda com o corpo seja simbólico, já que até um objeto simples como uma corda tinha valor e podia ser usado novamente.

"Ela provavelmente foi deixada como um sinal", afirma Nielsen. "Sua função era ser colocado no pântano porque tinha aquele propósito. Se ele foi voluntário ou escolhido ao acaso, nós não sabemos. Mas ele não parece tão insatisfeito."

Presentes para os deuses

A ideia de seguir voluntariamente para uma morte tão tenebrosa é difícil de entender para uma mente do século 21, mas pode não ter sido tão bizarra para as pessoas que viviam na Idade do Ferro.

"Precisamos pensar em um mundo em que os deuses estão em toda parte. Tudo o que você fizer é associado aos deuses", afirma Aldhouse-Green. Por isso, manter os deuses felizes pode ser questão de vida e morte não só para os indivíduos, mas para comunidades inteiras.

"Se você aborrecesse os deuses, eles dariam uma colheita fraca, uma praga, as safras seriam perdidas e assim por diante. E você precisava ter os deuses do seu lado", explica Miranda Aldhouse-Green.

Melanie Giles concorda. "Você está lidando com entidades que influenciam a sua vida, deuses ou espíritos, existe algo sobrenatural ali e se pode ter acesso pelo pântano", afirma ela.

Giles acrescenta que pode ter havido um elemento circular para a oferenda de pessoas aos deuses pelo pântano. "Como as pessoas tiravam muito dos pântanos, elas parecem ter sido compelidas a devolver alguma coisa." Às vezes, eram caldeirões, às vezes havia oferendas de alimentos como manteiga do pântano.

"Se você ofertar uma pessoa, uma vida - talvez fosse o melhor tipo de oferenda que você poderia fazer", explica Giles.

Embora existam evidências de que o Homem de Lindow, o Homem de Tollund, o Homem de Grauballe e outros fossem sacrifícios humanos, Giles ressalta que não devemos considerar que todos os corpos dos pântanos fossem oferendas. No caso de alguns corpos, como o da Mulher de Lindow, simplesmente não temos informações suficientes para formar um quadro convincente de como foi a sua morte.

"Existem alguns corpos que não exibem sinais de violência e essas pessoas podem ter simplesmente afundado", ressalta ela. "São locais perigosos. As pessoas morrem no pântano - elas morrem de exposição, morrem tentando cruzar o pântano, perdem seus calçados ou calculam mal onde estão andando. Algumas delas podem ter sido mortes acidentais."

Outros, segundo ela, podem ter sido simples assassinatos. Talvez o pântano deserto às vezes fosse apenas um local conveniente para atos abomináveis. E pode também ter havido vítimas de suicídio entre os mortos, talvez colocados ali em uma época em que essas mortes eram tratadas com medo e não com empatia.

"Os pântanos podem ter sido considerados o local certo para colocar um corpo perigoso - alguém que morreu misteriosamente ou de forma não natural", afirma Giles.

"Parte disso tinha a ver com as declarações da igreja, de que não queria essas pessoas nos seus cemitérios. E parte disso porque o pântano é um local poderoso, além da visão humana, onde os mortos podem ser guardados", conclui ela.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-63135507

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sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Nobel da Paz vai para ativista de Belarus preso Ales Bialiatski, organização russa Memorial e organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis

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Vencedores foram reconhecidos pela 'co-existência pacífica nos países vizinhos Belarus, Rússia e Ucrânia', diz comitê norueguês. Bialiatski está preso atualmente em Belarus.
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Por g1

Postado em 07 de outubro de 2022 às 08h45m

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Nobel da Paz 2022 vai para Ales Bialiatski, Memorial e Center for Civil LibertiesNobel da Paz 2022 vai para Ales Bialiatski, Memorial e Center for Civil Liberties

O ativista de Belarus Ales Bialiatski, a organização internacional russa pelos Direitos Humanos Memorial e a organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis venceram o Nobel da Paz de 2022, anunciado nesta sexta-feira (7).

Segundo os organizadores, os vencedores "representam a sociedade civil em seus países de origem".

"O comitê do Prêmio Nobel quis honrar três campeões dos Direitos Humanos, da democracia e da co-existência pacífica nos países vizinhos Belarus, Rússia e Ucrânia. Eles honram a visão de Alfred Nobel (criador do prêmio) sobre paz e convivência, uma visão tão necessária no mundo hoje", declarou o comitê.

O prêmio chega para os três países vizinhos em um dos momentos de maior escalada de tensões desde o começo da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro (leia mais abaixo).

Vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2022.  — Foto: Divulgação
Vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2022. — Foto: Divulgação

O anúncio do Nobel da Paz também foi feito no dia do aniversário de Vladimir Putin, mas a organização negou que a premiação tenha sido um recado ao líder russo. "Este prêmio não é endereçado ao presidente Putin, nem pelo seu aniversário nem em qualquer outro sentido, exceto pelo de que seu governo, assim como o de Belarus, representa um governo autoritário que suprime ativistas de Direitos Humanos", declarou

Um dos vencedores, Ales Bialiatski está atualmente preso em Belarus. Fundador do centro para os Direitos Humanos Viasna (que significa primavera), ele é um dos principais nomes da oposição ao atual presidente do país, Aleksandr Lukashenko, aliado de Vladimir Putin e frequentemente acusado de perseguir e prender opositores e de violar direitos humanos no país.

Bialiatski, que se dedica a promover a democracia e o desenvolvimento pacífico na Bielorrússia , foi também um dos fundadores do movimento democrático que surgiu no país em meados da década de 1980. Em 1996, ele criou a Viasna em resposta às polêmicas emendas constitucionais que deram a Lukashenko poderes ditatoriais e que desencadearam manifestações generalizadas.

Após o anúncio, os organizadores do Nobel pediram que as autoridades do país soltem o ativista.

Logo após a premiação, a porta-voz da oposição de Belarus afirmou que Bialiatski está atualmente preso "em condições desumanas". O líder da oposição no país, Pavel Latushko, disse que o Nobel reconheceu "todos os presos políticos em Belarus".

O bielorussi Ales Bialiatski, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2022. — Foto: Reuters
O bielorussi Ales Bialiatski, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2022. — Foto: Reuters

"(O prêmio) não é apenas para ele (Bialiatski), mas para todos os prisioneiros políticos que temos atualmente em Belarus", declarou a integrante do comitê do Nobel Berit Reiss-Andersen, que anunciou os vencedores.

Já o Centro para as Liberdades Civis da Ucrânia declarou estar "orgulhoso" de ser um dos laureados do Nobel da Paz deste ano. "Manhã com boas notícias. Estamos orgulhosos", declarou o centro, em sua conta em uma rede social.

O escritório da Alemanha da organização russa Memorial também falou sobre a premiação, que chamou de "um reconhecimento do nosso trabalho com os Direitos Humanos e especialmente dos nossos colegas na Rússia, que sofreram e sofrem ataques e repressões inomináveis".

Fachada da organização de Direitos Humanos da Rússia Memorial, uma das vencedores do Nobel da Paz 2022, em Moscou.  — Foto: Reuters
Fachada da organização de Direitos Humanos da Rússia Memorial, uma das vencedores do Nobel da Paz 2022, em Moscou. — Foto: Reuters

Premiação

O Prêmio Nobel da Paz, no valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,7 milhões) será entregue em Oslo em 10 de dezembro, que é a data do aniversário da morte do sueco Alfred Nobel, que fundou os prêmios em seu testamento de 1895.

Repercussões

Líderes mundiais já começaram a comentar a premiação deste ano.

Veja alguns deles abaixo.

Emmanuel Macron, presidente francês. "O Nobel da Paz rende homenagem aos defensores indefectíveis dos Direitos Humanos na Europa. Artesãos da paz, eles sabem que podem contar com o apoio da França", declarou.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "O direito de falar a verdade sobre o poder é fundamental para sociedades livres e abertas".

Escalada da guerra

'Isso não é um blefe', diz Vladimir Putin durante pronunciamento'Isso não é um blefe', diz Vladimir Putin durante pronunciamento

A guerra na Ucrânia vive uma forte escalada nas últimas semanas, após Kiev anunciar um ambicioso plano de retomada de diversas regiões em território ucraniano invadidas por Moscou. Com a ajuda militar e estratégica de países do Ocidente, o governo ucraniano afirmou ter reconquistado cerca de 10% das áreas ocupadas por tropas russas.

Em resposta, o presidente russo, Vladimir Putin, fez um pronunciamento à nação pela TV anunciando a convocação de cerca de 300 mil reservistas no país inteiro, o que gerou uma grande onda de fuga de jovens russos. Dias depois, quatro regiões da Ucrânia - Kherson, Zaporizhzhia, Luhansk e Donetsk - foram submetidas a um referendo organizado e realizado por Moscou sobre se os cidadãos locais queriam se separar da Ucrânia e se anexar à Rússia.

Putin anunciou vitória na consulta pública e, na semana passada, assinou a anexação dos quatro territórios em uma cerimônia transmitida por telões em Moscou. A ONU e a comunidade internacional não reconhecem a anexação.

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Annie Ernaux, escritora francesa, ganha Prêmio Nobel de Literatura 2022

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Anúncio foi feito nesta quinta-feira (6) pela Academia Sueca, em Estocolmo. A escritora, que escreveu sobre o aborto que fez nos anos 1960, é uma das convidadas para a Flip deste ano.
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Por g1

Postado em 07 de outubro de 2022 às 08h20m

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Nobel de Literatura 2022 vai para Annie ErnauxNobel de Literatura 2022 vai para Annie Ernaux

Annie Ernaux, escritora francesa, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura 2022. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (6), pela Academia Sueca, em Estocolmo.

Segundo a Academia, o prêmio foi concedido "pela coragem e acuidade clínica com que desvenda as raízes, os estranhamentos e os constrangimentos coletivos da memória pessoal."

Annie Ernaux — Foto: Reprodução/Twitter
Annie Ernaux — Foto: Reprodução/Twitter

Uma das mais importantes autoras da França, Annie escreve romances sobre a vida cotidiana em seu país. Segundo o jornal "The Guardian", ela era uma das favoritas para ganhar o prêmio. Durante o anúncio, a Academia informou que ainda não tinha conseguido o contato com ela pelo telefone.

Professora universitária de Literatura, Annie Ernaux escreveu quase 20 livros, nos quais aborda o peso da dominação das classes sociais e a paixão do amor, dois temas que marcaram sua trajetória. Sua obra, essencialmente autobiográfica, constitui uma radiografia da intimidade de uma mulher que evolui na esteira das grandes mudanças na sociedade francesa do pós-guerra.

Entre seus livros está "O Acontecimento", de 2000, em que relata um aborto clandestino que fez nos anos 1960. A Academia afirmou que sua "narrativa clinicamente contida" sobre o aborto ilegal de uma narradora de 23 anos no livro continua sendo uma obra-prima entre seus trabalhos.

"É um texto implacavelmente honesto, onde entre parênteses ela acrescenta reflexões em uma voz vitalmente lúcida, dirigindo-se a si mesma e ao leitor em um único e mesmo fluxo", disse a Academia.

A estreia da autora foi em 1974, com o romance "Les Armoires Vides", que não foi lançado no Brasil. Ela só obteve reconhecimento internacional após a publicação de "Os Anos", em 2008, com o qual ganhou o prêmio Renaudot. Sobre este livro, a Academia disse que "é seu projeto mais ambicioso, que lhe deu uma reputação internacional e uma série de seguidores e discípulos."

Annie Ernaux — Foto: Julie Sebadelha/AFP
Annie Ernaux — Foto: Julie Sebadelha/AFP

Primeira francesa a receber prêmio

Annie é a primeira mulher francesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Segundo a agência de notícias Reuters, a escritora disse que vencer era "uma responsabilidade".

"Fiquei surpresa. É uma grande responsabilidade testemunhar, não necessariamente em termos de escrita, mas testemunhar com precisão e justiça em relação ao mundo", disse a escritora em entrevista à emissora sueca SVT.

Ainda segundo a agência de notícias, a autora já tinha dito anteriormente que escrever é um ato político, abrindo os olhos para a desigualdade social. "E para isso ela usa a linguagem como 'uma faca', como ela chama, para rasgar os véus da imaginação", disse a Academia.

A escritora é uma das convidadas da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano. Ela participará da mesa Diamanto Rubro, ao lado de Veronica Stigger, no dia 26 de novembro. A Flip começa em 23 de novembro.

Mulheres no Nobel de Literatura

Entre a centena de homens, o Prêmio Nobel de Literatura foi concedido a dezessete mulheres desde 1901. A primeira delas foi Selma Lagerlöf, em 1909.

Veja abaixo a lista das mulheres premiadas:

Vencedoras do Nobel em Literatura: (acima) Selma Lagerlöf, Grazia Deledda, Sigrid Undset, Pearl Buck. Abaixo: Gabriela Mistral, Nelly Sachs, Nadine Gordimer, Toni Morrison  — Foto: Fotos: Fundação Nobel. | Arte: G1
Vencedoras do Nobel em Literatura: (acima) Selma Lagerlöf, Grazia Deledda, Sigrid Undset, Pearl Buck. Abaixo: Gabriela Mistral, Nelly Sachs, Nadine Gordimer, Toni Morrison — Foto: Fotos: Fundação Nobel. | Arte: G1

  • 1909 – Selma Lagerlöf
  • 1926 – Grazia Deledda
  • 1928 – Sigrid Undset
  • 1938 – Pearl Buck
  • 1945 – Gabriela Mistral
  • 1966 – Nelly Sachs
  • 1991 – Nadine Gordimer
  • 1993 – Toni Morrison
Vencedoras do Nobel de Literatura: Wislawa Szymborska, Elfriede Jelinek, Doris Lessing, Herta Müller, Alice Munro, Svetlana Alexievich — Foto: Fotos (na ordem): Fundação Nobel (Wislawa Szymborska, Elfriede Jelinek, Doris Lessing, Herta Müller); J Munro - Fundação Nobel (Alice Munro), A. Mahmoud - Fundação Nobel (S. Alexievich)
Vencedoras do Nobel de Literatura: Wislawa Szymborska, Elfriede Jelinek, Doris Lessing, Herta Müller, Alice Munro, Svetlana Alexievich — Foto: Fotos (na ordem): Fundação Nobel (Wislawa Szymborska, Elfriede Jelinek, Doris Lessing, Herta Müller); J Munro - Fundação Nobel (Alice Munro), A. Mahmoud - Fundação Nobel (S. Alexievich)

  • 1996 – Wislawa Szymborska
  • 2004 – Elfriede Jelinek
  • 2007 – Doris Lessing
  • 2009 – Herta Müller
  • 2013 – Alice Munro
  • 2015 – Svetlana Alexievich
  • 2018 – Olga Tokarczuk
  • 2020 - Louise Glück
  • 2022 - Annie Ernaux

Após o escândalo #Metoo, que levou à suspensão do prêmio em 2018, e as críticas recorrentes pela presença de laureados masculinos e eurocêntricos, a Academia Sueca informou que renovou seus critérios para que o prêmio seja mais global e feminino.

Nobel em 2022

A medalha do Prêmio Nobel — Foto: The Nobel Prize Foundation
A medalha do Prêmio Nobel — Foto: The Nobel Prize Foundation

O prêmio para cada uma das categorias do Nobel é de 10 milhões de coroas suecas (na conversão direta atual, cerca de R$ 4,8 milhões).

A láurea de medicina foi a primeira a ser anunciada nesta segunda-feira (3). O prêmio foi para Svante Pääbo, por suas descobertas sobre os genomas de hominídeos extintos e a evolução humana. Em 1982, o pai do cientista, Sune Bergstrom, também ganhou o Nobel de Medicina.

O prêmio de Física, anunciado na terça-feira (4), foi para três cientistas, o francês Alain Aspect, o americano John F. Clauser e o austríaco Anton Zeilinger. Eles levaram o Nobel por estudos sobre a mecânica quântica, um campo da física que investiga o comportamento de partículas muito minúsculas como átomos, elétrons e fótons.

Carolyn Bertozzi, uma das ganhadoras do Nobel de Química de 2022. — Foto: Stanford Media Relations via AP
Carolyn Bertozzi, uma das ganhadoras do Nobel de Química de 2022. — Foto: Stanford Media Relations via AP

O prêmio de Química também foi dividido entre três cientistas. Carolyn R. Bertozzi, Morten Meldal e K. Barry Sharpless receberam o Nobel pela criação de uma ferramenta criativa para a construção de moléculas como desenvolvimento da química do clique e da bioquímica bioortogonal."Entre muitas outras aplicações práticas, o trabalho do trio permitiu que tratamentos contra o câncer possam ser mais direcionados", afirmou o comitê do Nobel.

Os prêmios Nobel da Paz e de Economia serão anunciados respectivamente nesta sexta (7) e na segunda-feira (10).

O que é o Prêmio Nobel

A láurea foi criada pelo químico e empresário Alfred Nobel. Inventor da dinamite em 1867, o sueco doou a maior parte de sua fortuna em testamento para a criação de prêmios de física, química, medicina, literatura e paz (o prêmio de economia foi criado anos mais tarde).

Um busto do fundador do Prêmio Nobel, Alfred Nobel, em exibição durante cerimônia de entrega da láurea em 2018, em Estocolmo. — Foto: Henrik Montgomery/TT News Agency via AP, File
Um busto do fundador do Prêmio Nobel, Alfred Nobel, em exibição durante cerimônia de entrega da láurea em 2018, em Estocolmo. — Foto: Henrik Montgomery/TT News Agency via AP, File

O documento dizia que os prêmios deveriam ser concedidos "àqueles que, durante o ano anterior, tenham conferido o maior benefício à humanidade".

Contudo, hoje em dia, conforme explica Juleen Zierath, membro do Instituto Karolinska - o júri do Nobel de Medicina-, essa regra não é mais tão levada à risca.

"Você pode ter feito essa descoberta em um estágio muito inicial de sua carreira de pesquisa, ou pode ter feito essa descoberta em um estágio muito avançado de sua carreira de pesquisador", ressalta a pesquisadora.

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