"Com
essa variação nula em junho, o setor permanece no patamar pré-crise,
mas no resultado desse mês observa-se uma predominância de taxas
negativas entre as atividades industriais”, apontou o gerente da
pesquisa, André Macedo.
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Indústria registra variação nula em junho — Foto: Economia/G1
Segundo o pesquisador, ao se manter no patamar de fevereiro de 2020,
antes do início da pandemia, a indústria opera em nível semelhante ao
que era observado em fevereiro de 2009. Isso equivale a dizer que o
setor se encontra 16,7% abaixo de seu ponto mais alto, alcançado em maio
de 2011.
Em janeiro deste ano, quando a indústria acumulava nove taxas positivas
seguidas, a distância do patamar em relação ao ponto mais alto da série
era de 13,8%. "Isso dimensiona a perda de ritmo do setor ao longo deste
ano", destacou Macedo.
Embora o resultado do setor industrial como um todo ter sido de
estagnação, três das quatro grandes categorias econômicas e 14 das 26
atividades investigadas pelo IBGE registraram queda na produção no mês.
Dois trimestres seguidos de queda
Diante destes resultados, o setor industrial fechou o segundo trimestre
do ano com queda de 2,5% na comparação com o primeiro trimestre. Foi a
segunda taxa trimestral negativa seguida nesta base de comparação
(trimestre contra trimestre imediatamente anterior).
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Indústria tem queda na produção pelo segundo trimestre consecutivo — Foto: Economia/G1
Taxas altas frente base de comparação baixa
Já na comparação com junho de 2020, a indústria registrou crescimento
de 12%, a 10ª décima taxa positiva consecutiva nesta base de comparação.
Já o resultado do 2º trimestre na comparação com igual trimestre do ano
passado foi de alta de 22,6%, acumulando alta de 12,9% no semestre na
comparação com o segundo semestre do ano passado.
Também foi registrado novo avanço do indicador acumulado em 12 meses,
que passou de 4,9% em maio para 6,6%, o que demonstra manutenção do
ritmo de retomada do crescimento da produção industrial iniciada em
agosto do ano passado, quando apresentava queda de 5,7%.
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Indicador acumulado em 12 meses mantém trajetória de recuperação iniciada em agosto do ano passado — Foto: Economia/G1
O gerente da pesquisa ponderou que a alta taxa acumulada em 12 meses
"acontece diante de uma base de comparação muito depreciada". Ele
lembrou que no primeiro semestre de 2020 o setor acumulou perda de
10,9%.
"A
magnitude de crescimento [do acumulado em 12 meses] de dois dígitos
está associada ao fato de que o setor industrial, por conta da pandemia
de Covid-19, mostrou perdas importantes naquele período”, disse.
Efeitos da pandemia prejudicam o setor
De acordo com o gerente da pesquisa, o menor dinamismo do setor
industrial está relacionado aos efeitos da pandemia de Covid-19 no
processo de produção e na economia.
“Há,
no setor industrial, uma série de adversidades por conta da necessidade
das medidas de restrição, como a redução do ritmo produtivo, a
dificuldade de obtenção de matérias-primas e o aumento dos custos de
produção", apontou Macedo.
O pesquisador enfatizou que também pesam negativamente sobre a
indústria a o alto desemprego no país, que compromete a massa salarial e
impacta no consumo.
Disseminação de resultados negativos
Na passagem de maio para junho, houve disseminação de resultados
negativos entre a maioria das grandes categorias econômicas e das
atividades investigadas pelo IBGE.
Das quatro grandes categorias econômicas, apenas bens de capital
registrou avanço na produção. Foi a terceira taxa positiva nessa
comparação, acumulando crescimento de 5,9% nesse período.
Já a queda mais acentuada foi observada em bens de consumo semi e não
duráveis, eliminando parte do avanço de 3,6% registrado no mês anterior,
quando interrompeu três meses seguidos de queda, período em que
acumulou redução de 11,5%.
Resultados de junho por grande categoria:
- Bens de capital: 1,4%
- Bens de consumo: -0,9%
- Bens de consumo semiduráveis e não duráveis: -1,3%
- Bens intermediários: -0,6%
- Bens de consumo duráveis: -0,6%
Já entre as 26 atividades investigadas, 14 registraram queda na
produção em junho. A perda mais relevante foi a de veículos automotores,
reboques e carrocerias (-3,8%), que voltou a recuar após crescer nos
meses de abril (1,6%) e maio (0,3%).
Também se destacaram negativamente as atividades de celulose, papel e
produtos de papel (-5,3%), que teve a terceira taxa negativa seguida,
acumulando perda de 8,4% no período; e a de produtos alimentícios
(-1,3%), cujo resultado eliminou parte do avanço de 2,9% registrado em
maio.
Outras contribuições negativas importantes partiram de produtos de
metal (-2,9%), indústrias extrativas (-0,7%), produtos diversos (-5,8%),
máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,5%), móveis (-5,2%) e
outros produtos químicos (-0,8%).
Já entre as 11 atividades que registraram crescimento na produção, o
principal destaque ficou com a de coque, produtos derivados do petróleo e
biocombustíveis (4,1%), que já havia crescido 2,7% no mês anterior.
Também se destacaram as atividades de máquinas e equipamentos (2,9%),
de outros equipamentos de transporte (11,0%), de couro, artigos para
viagem e calçados (6,0%) e de impressão e reprodução de gravações
(12,3%).
Maioria das atividades ainda não retomou nível pré-pandemia
Com a disseminação de resultados negativos em junho, a maior parte das
atividades industriais ficaram com o patamar de produção abaixo do nível
pré-pandemia - em maio, metade havia recuperado as perdas.
As atividades de confecção de artigos de vestuário e acessórios e
veículos automotores, reboques e carrocerias eram as que apresentavam a
maior distância do patamar de fevereiro do ano passado.
Do lado oposto, as atividades de máquinas e equipamentos e de outros
equipamentos de transporte eram as atividades que mais havia apresentado
crescimento frente ao patamar pré-pandemia.
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Em junho, maioria das atividades industriais tinham patamar de produção abaixo do nível pré-pandemia — Foto: Economia/G1
Perspectivas
Em julho, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) subiu 0,8 ponto,
para 108,4 pontos, segundo a Fundação Getulio Vargas. Esta foi a
terceira alta seguida do indicador, que atingiu o maior patamar desde janeiro, quando ficou em 111,3.
Apesar da melhora, o otimismo dos empresários em relação aos próximos
meses desacelerou, influenciado pela escassez de insumos e pela possibilidade de racionamento energético no país, além da alta incerteza econômica em relação ao segundo semestre do ano.
A despeito das incertezas, o mercado financeiro elevou, mais uma vez, a
estimativa de crescimento da economia em 2021. Conforme o relatório
Focus, divulgado nesta segunda-feira (2) pelo Banco Central, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi revisada de 5,05% para 5,30%.
Os analistas do mercado financeiro também elevaram de 6,36% para 6,38% a
expectativa de crescimento da produção industrial este ano. Se a
projeção se confirmar, o setor terá o primeiro resultado anual positivo
após dois anos seguidos de queda - em 2020, a indústria brasileira
registrou um tombo de 4,5%, depois de ter recuado 1,1% em 2019.
Economistas têm destacado que uma recuperação mais consistente do
mercado de trabalho só deverá ser mais visível a partir o segundo
semestre, e condicionada ao avanço da vacinação e também à retomada do
setor de serviços – o que mais emprega no país e o mais afetado pelas
medidas de restrição para conter o coronavírus.