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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Energia, alimentos e transporte: como a maior seca da história afeta a economia e o seu bolso

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O solo seco e os baixos níveis dos rios prejudicam não só a irrigação e safras no campo, mas também a geração de energia e o deslocamento de cargas pelo país. Tudo tem reflexo na cadeia de produção e, por consequência, na inflação do país.
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Por Bruna Miato, André Catto, g1

Postado em 04 de setembro de 2024 às 07h05m

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Casas flutuantes ficaram encalhadas no leito do Igarapé do Xidamirim, cujo nível da água baixou drasticamente devido à seca em Tefé, no Amazonas. Foto de 20 de agosto de 2024 — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Casas flutuantes ficaram encalhadas no leito do Igarapé do Xidamirim, cujo nível da água baixou drasticamente devido à seca em Tefé, no Amazonas. Foto de 20 de agosto de 2024 — Foto: Bruno Kelly/Reuters

O Brasil enfrenta a pior seca de sua história recente, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). E a previsão dos meteorologistas é de que as ondas de calor e a estiagem permaneçam em quase todo o país pelo menos até novembro.

O cenário preocupa e pode levar a uma série de reflexos negativos na economia brasileira. O solo seco e os baixos níveis dos rios prejudicam não só as safras agrícolas como também a geração de energia elétrica, o custo de combustíveis e o transporte de cargas pelo país.

Essa junção de fatores tem reflexo direto no bolso dos brasileiros, em especial, os mais pobres. São impactos na cadeia produtiva de alimentos e nos custos de empresas por todo o país, que geram um aumento de custos básicos do dia a dia.

Em 2021, o último momento de crise energética mais grave, a seca provocou um aumento de 21,21% na energia elétrica residencial, que foi o segundo subitem de maior contribuição para a inflação oficial do país. Só perdeu para a gasolina, que avançou 47,49%.

Naquele ano, o IPCA chegou a 10,06%, maior nível desde 2015. De olho na seca de três anos atrás e no cenário atual, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tentou tranquilizar agentes do mercado e produtores nesta terça-feira (3).

"Nós não atravessaremos em 2025 o que aconteceu em 2021", disse.

Até é possível que os patamares não sejam os mesmos, mas a inflação já é uma preocupação latente e que ganha novo reforço.

Em julho, o acumulado do IPCA para a janela de 12 meses chegou a 4,50%, no teto do intervalo permitido pela meta perseguida pelo Banco Central do Brasil (BC). Caso ela permaneça elevada, o BC pode ser obrigado a manter os juros básicos do país em níveis mais altos para controlar os preços.

Além disso, o forte resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, uma alta de 1,4% no período, mostra que o consumo segue forte e amplia os receios de que a inflação esteja prestes a sair da meta do BC. O mercado financeiro, inclusive, já aposta em uma alta nos juros em setembro.

Nesta reportagem você vai entender, em um contexto já complexo, quais os possíveis efeitos econômicos da maior seca da história:

  • 💡 Os impactos na geração de energia
  • 🌾 As safras — e os alimentos que ficam mais caros
  • 🚢 As cadeias logísticas impactadas
  • 📈 A pressão sobre inflação e juros
Os impactos na geração de energia

Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos, afirma que a principal consequência inicial da seca é o encarecimento da conta de luz.

Conforme mostrou o g1, a bandeira tarifária foi alterada de "verde", em que não há cobrança extra pelo consumo de energia, para a "vermelha patamar 1", que adiciona R$ 4,46 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos pelas famílias.

A última vez que o governo acionou a bandeira vermelha foi justamente em agosto de 2021 — época de crise hídrica. A situação era tão grave que, um mês depois, a Aneel chegou a criar a bandeira "escassez hídrica", ainda mais cara, para atender ao sistema elétrico nacional em situação severa de seca.

Um aumento como esse acontece diante da importância das hidrelétricas para o Brasil. Elas são a principal fonte de energia do país, com 51,6% do total da carga produzida, segundo dados atualizados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Entenda no vídeo abaixo como funciona o sistema brasileiro de transmissão de energia:

Apagão nacional: sistema de transmissão de energia e diferenças em relação à crise de 2001

Para essa modalidade de geração de energia, a principal matéria-prima é, justamente, a água. "O clima desempenha um papel crucial nos preços da energia", destaca Gustavo Sozzi, engenheiro e presidente do Grupo Lux Energia.

Com a falta de chuvas, a quantidade de água nos reservatórios cai e a capacidade de gerar energia diminui. Para compensar essa perda, o país recorre a fontes alternativas, como as termelétricas — que são mais caras e menos eficientes.

O uso das termelétricas eleva os custos de produção, aumentando as bandeiras tarifárias e, consequentemente, a conta de luz, explica o engenheiro. Quanto menor a capacidade hidrelétrica, portanto, maior será a bandeira e o preço cobrado pela energia.

O especialista também reforça que as perspectivas para os próximos meses não são boas. Mesmo que as chuvas voltem em outubro, a estiagem prevista para setembro irá reduzir ainda mais os níveis dos reservatórios e deixar o solo (das regiões já secas) ainda mais duro, o que prejudica a recuperação durante as chuvas.

"Esperamos que, a partir do início de outubro, as chuvas retornem ao país com mais intensidade. Mas isso, inicialmente, não significará redução no custo da energia. Precisaremos de uma sequência de alguns meses com boas chuvas para normalizar a situação", pontua Sozzi.  
As safras — e os alimentos que ficam mais caros

Outro grande problema da estiagem é o desabastecimento de produtos agrícolas, resultado das quebras de safras e perda de alimentos. Os prejuízos na produção causam os chamados "choques de oferta", que acontecem quando um produto passa a ter uma disponibilidade menor no mercado — e, por isso, seus preços sobem.

Os recentes incêndios no interior de São Paulo também podem exercer uma pressão sobre o preço da cana-de-açúcar, matéria-prima utilizada para produção de açúcar e etanol. Caso o fogo seja controlado, no entanto, o impacto será pontual e não deverá pesar sobre a inflação, pondera o economista.

Alexandre Pires, do Ibmec, destaca que a extensão da seca — presente em quase todo o país — tende a prejudicar, principalmente, produções como soja, gado e itens de hortifruti.

"Neste ano, vamos ter uma quebra de safra por conta da seca, que já vem se intensificando ao longo dos últimos meses. Há uma generalização da estiagem", comenta o professor.

Como mostrou reportagem do g1, a estiagem prejudica, sobretudo, os pequenos produtores, que não possuem um sistema de irrigação para lidar com a seca.

Cerca de 13% da área da agricultura nacional tem essa estrutura, mas é dominada pelos grandes produtores focados em exportação. É a agricultura familiar, no entanto, a responsável por alimentar a maioria dos brasileiros.

Alexandre Maluf, da XP, comenta que as plantações de soja e milho podem ter uma melhora nas condições já a partir de outubro, caso as chuvas se normalizem. Um prolongamento da seca, por outro lado, poderá encarecer ainda mais essas culturas.

As cadeias logísticas impactadas

Em termos de logística, a seca prejudica principalmente o escoamento da produção industrial na Zona Franca de Manaus, onde os rios estão em níveis alarmantes.

"Isso acaba atrapalhando a oferta de insumos para a indústria no Centro-Sul, principalmente no Sudeste", diz Alexandre Maluf, da XP.

O economista comenta que, por isso, alguns produtos devem sofrer "estresse na cadeia logística" — ou seja, uma menor oferta de alguns itens, porque o transporte vem sendo prejudicado pela seca.

Entre os produtos que devem sentir mais esses impactos, Maluf destaca:

  • Equipamentos eletrônicos;
  • Insumos para a indústria;
  • Motopeças;
  • Autopeças.

Para o economista, no entanto, mesmo que a situação gere um impacto inflacionário, deve ser algo de "curto prazo".

Mas o professor Alexandre Pires, do Ibmec, destaca que o modal de transporte hidroviário é muito importante para a região Norte, e que o baixo volume dos rios afeta diretamente a economia local. A seca na região tem afetado, por exemplo, o transporte de itens de saúde pública.

Conforme mostrou o g1 em agosto, a estiagem severa atrasou a entrega de oxigênio e medicamentos no município de Envira, no interior do Amazonas. Além disso, os rios mais secos causaram desabastecimento na cidade e fez os preços de alguns alimentos saltarem de mais de 100%.

Nesse sentido, Pires comenta que a seca pode exigir atenção do governo federal para as comunidades da região, que dependem do rio para sobreviver economicamente. Isso, segundo o professor, pode gerar uma pressão por auxílios para a subsistência dessa população durante a estiagem, impactando mais as contas públicas.

A pressão sobre inflação e juros

Alexandre Pires, do Ibmec, afirma que há uma tendência cada vez maior de que a inflação fique acima da meta do Banco Central devido aos "choques adversos" que o Brasil tem enfrentado.

O centro da meta do BC para 2024 é de uma inflação de 3%. No entanto, ela será considerada cumprida se terminar o ano em um intervalo entre 1,5% e 4,5%.

Os dados mais recentes, de julho, mostram que a inflação acumulada em 12 meses foi de exatos 4,5%. Veja no gráfico abaixo.

A principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação é a taxa Selic — que está, atualmente, em 10,50% ao ano. Esse é o referencial usado por bancos e instituições financeiras para, por exemplo, balizar a oferta de crédito.

Por isso, quanto mais elevada a taxa, mais caro fica para pessoas e empresas tomarem crédito o que diminui investimentos e o consumo das famílias. Em geral, esse ciclo se reflete na economia do país, com uma atividade econômica mais fraca.

O economista Alexandre Maluf, da XP, avalia que, caso a seca severa permaneça, a soma de fatores poderá, sim, significar um aumento de pressão sobre o BC para manter a Selic em níveis elevados.

"Mas ainda é cedo para apontarmos se o cenário vai mudar ou não a cabeça do Banco Central", afirma.

Pires, do Ibmec, lembra que a instituição leva em conta uma série de dados para sua decisão sobre os juros, o que inclui fatores nacionais e internacionais.

"Como há uma tendência de os juros norte-americanos caírem, não deve haver um aumento da taxa por aqui. A tendência é que os juros continuem como estão, apesar das pressões inflacionárias", diz o economista.
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terça-feira, 3 de setembro de 2024

Os estranhos seres que habitam as profundezas da Terra (e o que dizem sobre possível vida em Marte)

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A água subterrânea encontrada em Marte abre a possibilidade de existência de vida nas profundezas do planeta vermelho.
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TOPO
Por Michael Marshall

Postado em 03 de setembro de 2024 às 13h45m

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O robô Perseverance chegando a Marte, em concepção artística — Foto: Nasa
O robô Perseverance chegando a Marte, em concepção artística — Foto: Nasa

Marte não é apenas o planeta vermelho. Ele é também um planeta úmido.

Em 12 de agosto, pesquisadores norte-americanos divulgaram evidências de um vasto reservatório de água líquida, nas profundezas da crosta rochosa do planeta.

Os dados são do robô Mars Insight Lander, da Nasa. Ele registrou mais de 1,3 mil terremotos em Marte nos últimos quatro anos.

Liderados pelo geofísico Vashan Wright, do Instituto de Oceanografia Scripps da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, os pesquisadores estudaram as ondas sísmicas que atingiram o robô. Eles concluíram que elas haviam atravessado camadas de rocha úmida.

Apesar do deserto estéril da superfície de Marte, os dados de Wright sugerem que existem volumes de água consideráveis, presos nas rochas entre 11,5 e 20 km de profundidade no planeta.

"Se eles estiverem certos, acho que esta é uma reviravolta", declarou a microbióloga do subsolo Karen Lloyd, da Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles, nos Estados Unidos.

A água subterrânea em Marte abre a possibilidade de existência de vida nas profundezas do planeta vermelho.

As últimas décadas revelaram uma enorme biosfera escondida nas profundezas da Terra. Agora, parece que o mesmo pode existir em Marte.

A vida marciana, se existir, pode muito bem ser subterrânea.

Biosfera profunda

Por mais de 30 anos, os biólogos acumularam evidências de que a vida resiste às profundezas da Terra. Pesquisadores fizeram perfurações profundas no leito do oceano e nos continentes. Eles encontraram vida em sedimentos enterrados e até mesmo entre camadas e cristais de rocha sólida.

A maior parte desses habitantes da escuridão é formada por micro-organismos unicelulares, especificamente bactérias e Archaea.

Estes imensos grupos são as formas de vida mais antigas conhecidas na Terra. Eles existem há mais de três bilhões de anos – desde muito antes das primeiras plantas e animais.

Nos últimos 20 anos, também descobrimos que a biosfera profunda é muito diversa.

"Existem, na verdade, muitos tipos diferentes de organismos que vivem nas profundezas do subterrâneo", afirma a geobióloga Cara Magnabosco, do Instituto Federal de Tecnologia (ETH) de Zurique, na Suíça.

As bactérias são divididas em grandes grupos chamados filos. Apenas algumas dezenas desses grupos já foram formalmente identificadas, mas se estima que haja 1,3 mil filos.

"Muitos desses filos podem ser encontrados embaixo da terra", segundo Magnabosco. Mas eles não são distribuídos regularmente.

Existem restos de lagos encontrados na superfície de Marte, mas a água que sobrou deles, agora, fica nas profundezas do subterrâneo. — Foto: Nasa
Existem restos de lagos encontrados na superfície de Marte, mas a água que sobrou deles, agora, fica nas profundezas do subterrâneo. — Foto: Nasa

Uma meta-análise de 2023 concluiu que a maioria dos ecossistemas subterrâneos é dominada por dois filos: Pseudomonadota e Firmicutes. Os outros tipos de bactérias são muito mais raros, mas incluem filos que nunca haviam sido observados antes.

Como o ambiente subterrâneo é escuro como breu, esses micróbios não conseguem energia diretamente da luz do Sol, como fazem os organismos fotossintéticos na superfície.

"O que realmente importa observar é que eles praticamente não dependem do Sol", afirma Lloyd.

Os micróbios subterrâneos também não recebem insumos como nutrientes vindos de cima. Muitos ecossistemas profundos são "totalmente desconectados da superfície", segundo Magnabosco.

Estes ecossistemas são baseados na quimiossíntese. Os micróbios conseguem sua energia realizando reações químicas, que absorvem substâncias das rochas e da água à sua volta. Eles podem, por exemplo, usar gases como metano ou sulfeto de hidrogênio como fonte de material.

"O ambiente subterrâneo traz muitas, muitas reações químicas diferentes", explica Lloyd. "Muitos de nós passamos muito tempo encontrando novas reações que sustentam a vida."

Os micróbios biossintéticos podem parecer alienígenas. Eles são raros nas regiões ensolaradas da superfície onde vivemos e ficam confinados às profundezas dos oceanos e às rochas subterrâneas.

Mas eles são alguns dos organismos vivos mais antigos da Terra. E algumas hipóteses sobre a origem da vida presumem que as primeiras formas de vida do planeta tenham sido quimiossintéticas.

Os micróbios unicelulares podem dominar o mundo subterrâneo, mas também existem alguns raros animais.

Um estudo de 2011 identificou vermes nematoides em água de fraturamento hidráulico de 0,9 a 3,6 km de profundidade em minas da África do Sul. A água parece ter ficado lá por pelo menos 3 mil anos, o que indica que a população de nematoides pode ter se formado há milênios.

Um estudo posterior, de 2015, encontrou platelmintos, anelídeos, rotíferos e artrópodes em água de fissuras a 1,4 km de profundidade. Os animais se alimentavam de uma fina camada de micróbios sobre a superfície da rocha. Ali, a água tinha até 12,3 mil anos de idade.

Para nós, as profundezas do subterrâneo parecem um lugar extremamente desafiador para se viver. Em comparação com a superfície, as populações microbianas são escassas, mas existem muitas rochas que podem abrigar a vida.

Em 2018, Magnabosco e seus colegas calcularam a escala da biomassa que vive sob os continentes, combinando dados de números e diversidade das células em locais de perfuração em todo o mundo. Eles estimaram que existem de 2 a 6 x 10^29 células vivendo embaixo dos continentes da Terra.

Em termos de comparação, existem cerca de 10^24 estrelas no universo observável.

"Temos um número imensamente grande de células embaixo dos nossos pés", segundo Magnabosco. De fato, ela afirma que cerca de 70% de todas as bactérias e Archaea da Terra vivem no subterrâneo.

Mas ainda não sabemos ao certo até qual profundidade se estende a biosfera. Acredita-se que a vida tenha um limite superior de temperatura, mas não sabemos exatamente qual é.

Nada consegue viver na superfície de lava fundida, mas alguns micróbios podem suportar temperaturas surpreendentes. Uma espécie de Archaea chamada Methanopyrus kandleri, por exemplo, pode sobreviver e se reproduzir a 122 °C.

Foram identificados possíveis vulcões de lama na superfície de Marte — Foto: Nasa/JPL-Caltech/University of Arizona
Foram identificados possíveis vulcões de lama na superfície de Marte — Foto: Nasa/JPL-Caltech/University of Arizona

À medida que avançamos na profundidade, a pressão também passa a ser um problema. E o tipo de rocha também é importante, pois ele afeta as reações químicas que podem ocorrer e, portanto, os tipos de micróbios biossintéticos que podem viver por ali.

"Mas eu não posso dar um número [que indique até qual profundidade pode existir vida] porque ainda não o atingimos, porque simplesmente não perfuramos até essa profundidade", explica Lloyd.

E a profundidade limite pode ser surpreendente. Um estudo de 2017 analisou amostras de um vulcão de lama e indicou que pode existir vida a 10 km abaixo do leito do oceano.

Parte desta vida é extremamente lenta. "Certamente, existem grandes partes do subsolo, principalmente embaixo dos nossos oceanos, onde realmente nada acontece por milhões de anos", segundo Lloyd.

Sem novos nutrientes vindo de cima e sem forma de escapar, os micróbios nessas regiões têm muito pouco alimento. "Isso significa que eles simplesmente não têm a energia necessária para produzir novas células", explica ela.

Por isso, os micróbios reduzem a velocidade do seu metabolismo e ficam quase em estase. "Na verdade, é bastante razoável que uma única célula possa viver por milhares de anos ou mais."

E é plausível que este tipo de vida – que depende de reações químicas entre as rochas e a água, possivelmente com uma velocidade metabólica extremamente lenta – possa ser encontrado nas rochas ricas em água, existentes no subsolo de Marte.

Micróbios marcianos

Até o momento, mesmo depois de décadas de missões não tripuladas para o planeta vermelho, não existem evidências sólidas ou diretas da vida em Marte.

A superfície do planeta é seca e fria e nenhuma câmera flagrou nenhum organismo vivo vagando por ela.

Mas locais como cânions oferecem fortes indicações de que Marte já teve água corrente sobre a superfície, bilhões de anos atrás. Parte dessa água provavelmente se perdeu no espaço, mas a equipe de Wright concluiu que boa parte dela está no subterrâneo.

"Sabemos que a água é um requisito fundamental para a vida como a conhecemos", destaca Karen Lloyd. Por isso, talvez a superfície de Marte já tenha sido habitável, mas agora, resta somente o subsolo. "Sempre preferi a noção de que a vida estaria enterrada de alguma forma."

Como os lentos micróbios que vivem nas profundezas, embaixo dos oceanos da Terra, os micróbios marcianos podem se agarrar à vida, mesmo com poucos nutrientes.

"O mesmo tipo de processo que acontece no nosso subterrâneo pode acontecer em Marte", destaca Magnabosco.

A evidência mais sugestiva de vida encontrada até hoje em Marte são as plumas de metano no ar do planeta, que variam conforme as estações.

Na Terra, o metano é frequentemente produzido por micro-organismos, de forma que o gás poderia ser um subproduto da vida subterrânea.

Mas Lloyd recomenda cautela. "Existem muitos fatores não relacionados à vida que poderiam gerar plumas de metano", explica ela.

Existem também muitos outros obstáculos para a vida no subsolo de Marte.

"A vida não precisa apenas de água", explica Lloyd. "Ela precisa de energia e de um lugar para ficar – ou seja, ela precisa de um habitat."

Ainda não sabemos se os poros das rochas marcianas são suficientemente grandes para os micróbios. E, da mesma forma, a composição química das rochas profundas é fundamental, pois elas seriam a fonte da energia química.

Para Magnabosco, a "maior incerteza" sobre a vida em Marte é "se ela surgiu ou não". E, como não sabemos como os primeiros seres vivos se formaram a partir do material inanimado, também não sabemos se as condições em Marte, em algum dia, foram adequadas para o surgimento da vida.

"Se a vida tiver conseguido se desenvolver em Marte", explica ela, "existe uma chance muito grande de que ela ainda sobreviva e permaneça no planeta até hoje."

E, se essa biosfera profunda de Marte realmente existir, como poderemos encontrá-la?

A ideia mais óbvia é perfurar o planeta, mas precisaríamos chegar a 10 km de profundidade ou mais – uma tarefa difícil, mesmo na Terra. Como fazer isso em um planeta sem ar para respirar, nem água corrente?

Para Cara Magnabosco, "é muito, muito mais difícil". Mas deve ser possível estabelecer evidências que sustentem a existência de vida.

A missão Mars Sample Return, planejada pela Nasa, pretende trazer rochas marcianas para a Terra. E estas amostras poderão conter traços de vida.

"Seria muito útil seguir o metano", acrescenta Lloyd. Atualmente, não sabemos de onde vem esse gás. "Se concluirmos que os bolsões de água são associados às plumas de metano", esta seria uma indicação de vida, segundo ela.

Por fim, se Marte realmente tiver água no subsolo, poderíamos fazer uso dela. Na Terra, por exemplo, as fontes termais trazem água das profundezas para a superfície.

"Marte tem vulcões de lama", explica Lloyd. "É possível visitar lugares em Marte, onde realmente temos amostras do subsolo que foram retiradas e trazidas para a superfície."

Podemos ainda precisar de décadas para ter uma resposta definitiva. E podemos nos decepcionar com essa resposta.

Marte é muito menos ativo que a Terra, tectônica e hidrologicamente falando. Esta condição indica que a vida no planeta vermelho é escassa ou inexistente.

"Podemos estar procurando vida que não vive mais há muito tempo", explica Lloyd. E, neste caso, tudo o que poderemos encontrar são evidências fósseis, não organismos vivos.

"De qualquer forma, seria vida em Marte."

* Michael Marshall é jornalista freelancer especializado em ciências e meio ambiente. Ele é o autor do livro "A Busca da Gênese: os gênios e excêntricos em uma jornada para descobrir as origens da vida na Terra" (em inglês).

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PIB do Brasil cresce 1,4% no 2° trimestre de 2024, diz IBGE

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Indústria e Serviços tiveram altas importantes e compensaram a queda da Agropecuária. Resultado vem depois de uma alta de 1% no primeiro trimestre deste ano.
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Por Raphael Martins, g1

Postado em 03 de setembro de 2024 às 09h15m

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Movimentação intensa de consumidores na região de comércio popular da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo. — Foto: WAGNER VILAS/ESTADÃO CONTEÚDO
Movimentação intensa de consumidores na região de comércio popular da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo. — Foto: WAGNER VILAS/ESTADÃO CONTEÚDO

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no 2º trimestre de 2024, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (3).

Este é o 12º resultado positivo consecutivo do indicador em bases trimestrais. O saldo vem depois de a atividade econômica brasileira crescer 1% no 1º trimestre. O resultado anterior, de 0,8%, foi revisado pelo IBGE.

Neste 2º trimestre, a Indústria (1,8%) e o setor de Serviços (1%) tiveram altas importantes e compensaram a queda de 2,3% da Agropecuária.

Pelo lado da demanda, todos os itens cresceram. O Consumo das famílias e o Consumo do governo subiram 1,3%, enquanto os Investimentos voltaram a reagir depois de um 2023 muito ruim, com alta de 2,1% neste trimestre.

Variação trimestral do PIB brasileiro até o 2° trimestre de 2024 — Foto: g1
Variação trimestral do PIB brasileiro até o 2° trimestre de 2024 — Foto: g1

Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 2,9 trilhões. Foram R$ 2,5 trilhões vindos de Valor Adicionado (VA) a preços básicos, e outros R$ 387,6 bilhões de Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.

Com os resultados, o PIB brasileiro teve alta de 3,3% em relação ao mesmo trimestre de 2023. Já a alta acumulada em quatro trimestres é de 2,5%.

Principais destaques do PIB no 2º trimestre:

  • Serviços: 1,0%
  • Indústria: 1,8%
  • Agropecuária: -2,3%
  • Consumo das famílias: 1,3%
  • Consumo do governo: 1,3%
  • Investimentos: 2,1%
  • Exportações: 1,4%
  • Importação: 7,6%

PIB do Brasil cresce 1,4% no segundo trimestre de 2024

PIB cresceu 1,4% contra o trimestre anterior.

Segundo o IBGE, o resultado da Indústria se destaca por conta do desempenho das atividades de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (4,2%), favorecido pelo consumo residencial e influenciado pelas altas temperaturas.

Também houve bom desempenho da Construção (3,5%), favorecida pelo aumento de crédito, um patamar de juros mais baixos no país e programas de governo que ajudam a área, como o Minha Casa, Minha Vida.

A Indústria de transformação subiu 1,8%, com alta forte tanto de bens de consumo — que se relaciona com a melhora de renda e de créditos para os brasileiros —, quanto pelo lado de bens de capital — que melhora com o desempenho dos investimentos produtivos da economia.

Já a Indústria extrativa registrou queda de 4,4% no trimestre, com paradas de manutenção do setor de petróleo.

"A Indústria cresceu, mas ainda estamos 5,4% abaixo do 3º trimestre de 2013, que é o patamar mais alto da série histórica da pesquisa", diz Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Os Serviços estão no maior patamar nominal da série histórica. Entre os subsetores, houve altas em Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (2%), Informação e comunicação (1,7%), Comércio (1,4%), Transporte, armazenagem e correio (1,3%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (1%), Atividades imobiliárias (0,9%) e Outras atividades de serviços (0,8%).

Análise do PIB sob a ótica da oferta até o 2° trimestre de 2024 — Foto: g1
Análise do PIB sob a ótica da oferta até o 2° trimestre de 2024 — Foto: g1

Já o desempenho da Agropecuária era previsto por conta dos problemas climáticos no fim do ano passado. As safras de verão foram prejudicadas pelas seguidas ondas de calor, ou pelo volume muito grande de chuva em parte do país, além de seca em outras regiões.

"Esse cenário já prejudicou a safra do começo do ano. Com as enchentes do Rio Grande do Sul, as estimativas da produção de soja, que é a lavoura mais importante do Brasil, teve um agravamento da queda", diz Rebeca Palis, do IBGE.

Com a queda no trimestre, o resultado nominal da Agropecuária está 5,8% abaixo do maior patamar da série histórica, que foi atingido com a supersafra do 1º trimestre de 2023.

Pelo lado da despesa, houve alta expressiva a despesa de Consumo das famílias (1,3%). São efeitos da força do mercado de trabalho brasileiro, que tem sua taxa de desocupação nos menores níveis em 10 anos, e a expansão real da massa salarial, que favorece o consumo.

A despesa de Consumo do governo (1,3%) também tem alta pela concentração de obras e investimentos do poder público em ano eleitoral. Em geral, os gastos se concentram no início do ano, por conta do bloqueio da entrega de obras durante a campanha.

Já os Investimentos (2,1%) cresceram bem em relação ao trimestre anterior, acompanhando a melhora da Construção, incentivada pela produção de máquinas e equipamentos no país, além do crescimento na importação.

Análise do PIB sob a ótica da demanda até o 2° trimestre de 2024 — Foto: g1
Análise do PIB sob a ótica da demanda até o 2° trimestre de 2024 — Foto: g1

Principais destaques do PIB contra o mesmo trimestre de 2023:

  • Serviços: 3,5%
  • Indústria: 3,9%
  • Agropecuária: -2,9%
  • Consumo das famílias: 4,9%
  • Consumo do governo: 3,1%
  • Investimentos: 5,7%
  • Exportações: 4,5%
  • Importação: 14,8%
PIB cresce 3,3% em relação ao mesmo trimestre de 2023

Em relação ao mesmo trimestre de 2023, apenas a Agropecuária registrou queda entre os subsetores. Houve queda de soja (-4,3%) e milho (-10,3%), mas as melhoras de café (6,6%) e algodão (10,8%) ajudaram a segurar o resultado.

Nos demais setores, os aumentos estão relacionados ao maior dinamismo da economia que justificam o resultado do trimestre em si.

Vale nota para a expansão nas exportações, que foi incentivada pela extração de petróleo e gás natural, além da indústria alimentícia, da agropecuária e pelos derivados do petróleo.

Já as importações ganharam destaque pela indústria automobilística, produtos químicos, produtos de metal, agropecuária e serviços.

Haddad comemora o resultado

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou o crescimento de 1,4% do PIB no 2º trimestre. Segundo ele, o resultado indica que o Brasil pode fechar 2024 com um crescimento econômico acima dos 2,7%.

"Vamos provavelmente reestimar o PIB para o ano, que deve — pela força com que ele vem se desenvolvendo — superar 2,7% ou 2,8%. Há instituições que já estão projetando um PIB superior a 3%", disse o ministro.

A estimativa oficial do governo, até julho, era de um crescimento de 2,5% no acumulado do ano. Essa previsão é revista periodicamente pela área econômica.

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