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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

EUA, Europa e Ásia enfrentam secas recordes; qual a gravidade do cenário e as suas causas?

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Na Europa, dois terços do território estão sob alerta: seca é considerada a pior em 500 anos. Influência do La Ninã e dos ventos do Saara estão entre as causas: aquecimento global torna eventos extremos mais frequentes.
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Por Roberto Peixoto, g1

Postado em 29 de agosto de 2022 às 08h05m

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Pessoas caminhando na parte seca do rio Poyang, na China — Foto: Thomas Peter/REUTERS
Pessoas caminhando na parte seca do rio Poyang, na China — Foto: Thomas Peter/REUTERS

A pior seca em 500 anos na Europa e a pior onda de calor da história recente na China: o verão de 2022 no Hemisfério Norte deixa evidente no solo seco de rios e de lagos o impacto de eventos climáticos extremos. Qual o papel do La Niña, dos ventos do Saara e do aumento da temperatura nesta crise que afeta a saúde de milhões de pessoas e coloca em risco a agricultura e a economia global?

Especialistas ouvidos pelo g1 explicam que, embora a seca e o calor também pudessem ter origem em ciclos naturais na Terra (entenda mais abaixo), esses eventos extremos não são uma surpresa diante do atual cenário e seriam muito mais raros se a humanidade não estivesse provocando o aquecimento progressivo do planeta.

Abaixo, nesta reportagem, você vai entender quais são as explicações dos cientistas do clima e ver a gravidade do cenário em fotos de satélite que mostram o "antes e depois" em nove rios e lagos pelo planeta.

Drone mostra o maior lago de água doce da China em seu nível mais baixo na estação chuvosaDrone mostra o maior lago de água doce da China em seu nível mais baixo na estação chuvosa

Um fenômeno com várias causas

Em entrevista ao g1, o cientista climático Richard Seager, do centro de pesquisa Lamont Doherty Earth Observatory da Universidade de Columbia, explica que as mudanças do clima são apenas um dos fatores em jogo nessa crise que ele descreve como severa.

  • La Ninã

Em primeiro lugar, Seager explica que temos um La Niña em curso, um fenômeno chave no sistema climático da Terra.

Durante a época do La Niña, há um resfriamento das águas do Oceano Pacífico e isso faz com que os chamados ventos alísios (ventos que sopram de leste a oeste no Equador) se intensifiquem. Com essa intensificação, uma mudança na circulação do ar atmosférico acontece e a distribuição de chuvas muda (veja infográfico abaixo).

Efeitos do La Niña — Foto: Arte/g1
Efeitos do La Niña — Foto: Arte/g1

O especialista em secas e mudanças hidroclimáticas destaca, porém, que geralmente o La Niña resulta em zonas de alta pressão em latitudes médias, que causam menos precipitações entre junho e agosto principalmente em uma grande área ao sul do Pacífico. Mas às vezes - e este é o caso deste ano - essas zonas circulam pelo globo.

"Isso vem acontecendo durante todo o ano de 2022 e essas zonas de alta pressão de latitude média desviam os fluxos de jatos e as trilhas de tempestade em direção aos polos da Terra e trazem condições secas para, por exemplo, a América do Norte, Europa, o Mediterrâneo e o Oriente Médio", detalha.

Em julho, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmou que a seca em curso no Chifre da África, como é conhecido o nordeste africano, carregou neste ano justamente as influências desse atual La Niña.

"Os La Niña dos últimos invernos provavelmente tiverem o maior efeito sobre a atual seca no sudoeste dos Estados Unidos", diz ao g1 o climatologista americano Benjamin Cook.

Ela conta que as tempestades de inverno que trazem grande parte da umidade para esta região são deslocadas para o norte por causa do fenômeno e, por isso, a região enfrenta secas.

Agravando esse cenário, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos prevê que esse atual La Niña persistirá durante o outono e o início do inverno no Hemisfério Norte.

Se isso acontecer de fato, esse seria o terceiro La Niña consecutivo que se tem registro - um fenômeno raro visto apenas duas vezes no século passado e que pode agravar episódios climáticos extremos.

  • Ventos do Saara

Na Europa, em julho, temperaturas sem precedentes foram registradas durante uma onda de calor generalizada e duradoura que causou não apenas secas, como incêndios florestais e mortes.

No mesmo mês, o g1 mostrou que a principal causa desse fenômeno, que pode ter resultado provavelmente na pior seca em 500 anos no continente, foi justamente um sistema de alta pressão atmosférica bastante intenso que diminuiu as chances de chuva e a umidade do ar.

Associado a esse evento, veio também a influência de ventos do Norte da África, do Deserto do Saara, que tornam o ar cada vez mais seco e quente.

Onda de calor na Europa: impactos de ventos do Saara — Foto: g1
Onda de calor na Europa: impactos de ventos do Saara — Foto: g1

"Secas como as que estamos vendo nessas regiões são normalmente causadas por pelo menos vários meses de chuvas baixas ou ausentes. No entanto, elas também podem ser amplificadas por essas temperaturas mais altas, que aumentam a evaporação e a perda de água da superfície, tornando as coisas ainda mais secas", pontua Cook.

  • Mudanças climáticas

Apesar desses ciclos naturais, a OMM destaca que todos esses eventos climáticos estão sendo atualmente agravados pela mudança climática induzida pelo ser humano, "que aumenta a temperatura global, deixa o clima mais extremo e impacta os padrões sazonais de precipitação e temperatura".

A série de ondas de calor europeias neste verão foi causada por padrões climáticos específicos, mas as temperaturas experimentadas foram mais quentes do que seriam por causa das mudanças climáticas afirmou Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S) da União Europeia.

O climatologista Richard Seager também põe em evidência esse ponto e acrescenta que as secas atuais no Hemisfério Norte mostram quão severas as condições podem ser devido à essa combinação de ciclos climáticos naturais (como o La Niña) e o aquecimento global em curso, que está aumentando a quantidade de umidade que a atmosfera pode reter e sugando a água dos solos, vegetação e córregos.

"É isso que está piorando a situação em termos de seca, caso tivéssemos apenas o La Niña", diz.

Já Cook, que também contribui em estudos do clima para a Nasa, acredita que ainda é muito cedo para afirmarmos com precisão que as mudanças climáticas estão afetando de fato esses eventos, mas ressalta que os cientistas já esperavam um aumento da gravidade da seca e do risco de aquecimento excessivo nessas regiões da Europa, Estados Unidos e Ásia.

O fato é que o planeta está aquecendo e que as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos levaram a um aumento de 1,07ºC na temperatura do planeta, algo que, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), causou mudanças recentes no clima sem precedentes.

"Portanto, independentemente de como as mudanças climáticas estão afetando essas secas específicas, esses são os tipos de eventos para os quais devemos nos preparar à medida que continuamos nos movendo para um futuro mais quente", destaca o cientista. 
Fotos de satélite

Análise de imagens de satélite de áreas afetadas por essas estiagens extremas mostram o impacto desse evento climático em diversas regiões do globo. A comparação do antes e depois desses locais foi divulgada pela Nasa e ESA, as agências espaciais dos Estados Unidos e Europa, respectivamente e pelo serviço Copernicus da União Europeia. Veja abaixo a análise das imagens.

Europa

  • Rio Pó, Placência, Itália

Na primeira comparação de imagens de satélite, é possível ver o antes e depois do Rio Pó, na cidade italiana de Placência (veja mapa abaixo).

O rio é o maior da Itália e atingiu níveis recordes de baixa após meses sem chuvas. Com a estiagem, o rio Pó, que era normalmente uma grande extensão de água, secou e grandes faixas de areia foram expostas.

Em julho, durante a pior seca em 70 anos, a Itália declarou estado de emergência em cinco regiões do norte do país ao redor do rio.

Rio Pó, Placência, Itália — Foto: Arte/g1
Rio Pó, Placência, Itália — Foto: Arte/g1

  • Rio Reno, Colônia, Alemanha

O rio Reno é o segundo maior rio da Europa e uma importante rota para produtos comerciais no continente.

Na última semana, de acordo com um comunicado do governo alemão, o Reno, que flui dos Alpes suíços até o Mar do Norte, viu seus níveis de água caírem abaixo de 40 centímetros em algumas partes do seu leito.

Segundo a ESA, normalmente, os níveis de água mais baixos são observados em setembro ou outubro no rio, mas esses níveis de agora estão surgindo mais cedo do que o normal. Na imagem acima, é possível ver uma porção do rio que cruza a cidade alemã de Colônia.

Rio Reno, Colônia, Alemanha — Foto: Arte/g1
Rio Reno, Colônia, Alemanha — Foto: Arte/g1

  • Barragem do Alto Lindoso, Portugal

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), choveu quase metade do que seria esperado de outubro do ano passado a agosto deste ano no país.

Fora isso, o governo estima que a maior parte do território de Portugal continental se encontra em uma seca severa (55,2%) ou extrema (44,8%), com destaque para a região sul e parte do norte do país, como nas próximidades da imagem acima, na Barragem do Alto Lindoso, que em julho registrou apenas 15% de sua capacidade.

Barragem do Alto Lindoso, Portugal — Foto: Arte/g1
Barragem do Alto Lindoso, Portugal — Foto: Arte/g1

  • Rio Danúbio, Silistra, Bulgária

Com cerca de 2.800 km de extensão, o Rio Danúbio é o segundo rio mais longo da Europa e serve de rota para o fluxo de embarcações no continente.

Nesta imagem acima divulgada pelo programa Copernicus, o destaque é para um ponto do rio na cidade de Silistra, na Bulgária.

Embora nesse local alguns bancos de areia já estejam aparentes, esse trecho permanece navegável, diferentemente de outras rotas do rio.

No começo de agosto, o nível da água em Tulcea, na Romênia, estava em 51 cm, 6 cm abaixo do valor mínimo para navegação.

Rio Danúbio — Foto: Arte/g1
Rio Danúbio — Foto: Arte/g1

  • Consequências na França e no Reino Unido

As imagens de satélite divulgadas pelo Copernicus também revelam que não foi apenas a paisagem dos rios europeus que mudou por causa dessa seca, a vegetação também sofreu bastante.

Na comparação acima, vemos que boa parte do território francês não está mais tão verde como em julho de 2021, situação bastante semelhante da registrada pelos satélites do programa nos arredores de Cambridge, no Reino Unido (veja abaixo).

"Em todo o Hemisfério Norte, este verão é bastante excepcional em comparação com os anos anteriores, em termos da área total afetada pela seca e da gravidade de muitas dessas secas. Estes são eventos quase recordes ou recordes", afirma Cook.

Estados Unidos

  • Lago Mead, sudoeste do país

O Lago Mead é o maior reservatório de água dos Estados Unidos. Ele abastece milhões de pessoas em mais de sete estados americanos e até algumas regiões do norte do México.

Na imagem acima é possível ver como seus níveis de água estão baixos. Com cerca de 27% da sua capacidade total, o reservatório está em seu ponto mais baixo em 85 anos, quando o lago foi abastecido pela primeira vez.

Lago Mead — Foto: Arte/g1
Lago Mead — Foto: Arte/g1

  • Lago Powell, Utah

No Lago Powell, a segunda maior reserva dos Estados Unidos, a situação também não é muito diferente.

O reservatório está com cerca de 26% de sua capacidade, seu menor nível desde 1967.

Lago Powell, Utah — Foto: Arte/g1
Lago Powell, Utah — Foto: Arte/g1

China

  • Rio Yangtze, Chongqing

O maior rio da China, o Yangtze, também está sofrendo os efeitos de uma forte seca.

Na imagem acima, a ESA fotografou, em dois períodos diferentes, o leito do rio próximo à cidade de Chongqing, um município relativamente grande no sudoeste do país. Na imagem de 2022, é possível ver bancos de areias expostos.

De acordo com o Ministério de Recursos Hídricos da China, a bacia do rio Yangtze registrou sua menor precipitação para um verão desde 1961.

Rio Yangtze, Chongqing, China — Foto: Arte/g1
Rio Yangtze, Chongqing, China — Foto: Arte/g1

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domingo, 28 de agosto de 2022

Rio Jordão, onde Jesus foi batizado, hoje é só um fio d'água

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Turistas e peregrinos, muitos deles movidos pela fé, vêm seguir os passos de Cristo, tocar as águas do rio, e se conectar aos acontecimentos bíblicos.
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TOPO
Por Mariam Fam, Associated Press

Postado em 28 de agosto de 2022 às 12h25m

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Uma vaca atravessa o Rio Jordão, perto do Kibbutz Karkom, no norte de Israel, sábado, 30 de julho de 2022 — Foto: Oded Balilty/AP
Uma vaca atravessa o Rio Jordão, perto do Kibbutz Karkom, no norte de Israel, sábado, 30 de julho de 2022 — Foto: Oded Balilty/AP

Kristen Burckhartt estava embevecida. Ela precisava de tempo para refletir, para deixar assentar a ideia de que havia acabado de mergulhar os pés nas águas onde Jesus teria sido batizado, no Rio Jordão.

É muito profundo, disse a visitante de 53 anos, do estado americano de Indiana. Eu nunca havia andado por onde Jesus andou, para começo de conversa.

Aqui, turistas e peregrinos, muitos deles movidos pela fé, vêm seguir os passos de Cristo, tocar as águas do rio, e se conectar aos acontecimentos bíblicos.

Simbólica e espiritualmente, o rio tem um poderoso significado para muitas pessoas. Fisicamente, porém, o Baixo Rio Jordão é atualmente muito mais minguado do que poderoso.

Peregrinos cristãos entram nas águas do Rio Jordão durante uma cerimônia de batismo que faz parte da Festa da Epifania Ortodoxa, no local de batismo Qasr al-Yahud, próximo à cidade de Jericó, na Cisjordânia — Foto: Oded Balilty/AP
Peregrinos cristãos entram nas águas do Rio Jordão durante uma cerimônia de batismo que faz parte da Festa da Epifania Ortodoxa, no local de batismo Qasr al-Yahud, próximo à cidade de Jericó, na Cisjordânia — Foto: Oded Balilty/AP

Quando chega ao local do batismo, suas águas cada vez mais escassas parecem lentas, em um tom opaco de verde amarronzado.

Seu declínio está interligado a décadas de conflito árabe-israelense e à disputa pela preciosa água em um vale onde tantas coisas são contestadas.

Um trecho do rio, por exemplo, era uma fronteira hostil entre Israel e Jordânia quando estavam em guerra. O curso d’água também separa a Jordânia, a leste, da Cisjordânia, de ocupação israelense, tomada por Israel durante a guerra de 1967 e pleiteada pelos palestinos para constituição de um Estado.

Ele (o rio) é definitivamente uma vítima do conflito. É uma vítima das pessoas, porque é o que fizemos ao rio como pessoas, basicamente, e agora além disso é uma vítima das mudanças climáticas, explica Yana Abu Taleb, diretora na Jordânia da organização EcoPeace Oriente Médio, que reúne ambientalistas jordanianos, palestinos e israelenses e pressiona pela colaboração regional para salvar o rio. Então, ele é uma vítima em todos os sentidos.

O cristão sírio Zuhair Al-Sahawi mergulha uma mão na água do local de batismo Betânia do Além-Jordão, na margem oriental do Rio Jordão, na Jordânia — Foto: Raad Adayleh/AP
O cristão sírio Zuhair Al-Sahawi mergulha uma mão na água do local de batismo Betânia do Além-Jordão, na margem oriental do Rio Jordão, na Jordânia — Foto: Raad Adayleh/AP

Há anos a EcoPeace diz que o Baixo Jordão, que corre para o sul saindo do Mar da Galileia, está ameaçado por décadas de desvios de água e poluição. Apenas uma ínfima fração do fluxo histórico de água chega atualmente à sua desembocadura no Mar Morto.

De pé no local de batismo jordaniano de Betânia do Além-Jordão, Burckhartt enfrentou muitas emoções – entre elas, a tristeza pela diminuição do rio.

Tenho certeza que Deus, lá em cima, também está triste.

As margens opostas abrigam locais de batismo rivais onde acontecem rituais de fé, um reflexo do duradouro fascínio exercido pelo rio.

Vista dos prédios em Al-Maghtas, ou Betânia do Além-Jordão, na margem oriental do Rio Jordão, na Jordânia — Foto: Raad Adayleh/AP
Vista dos prédios em Al-Maghtas, ou Betânia do Além-Jordão, na margem oriental do Rio Jordão, na Jordânia — Foto: Raad Adayleh/AP

O rio tem ainda mais significado como cenário de milagres no Antigo Testamento.

No local de batismo jordaniano, recentemente, uma mulher mergulhou os pés na água e pegou um pouco com as mãos, esfregando-a no rosto e na cabeça. Outros fizeram o sinal da cruz ou se debruçaram para encher garrafas.

Rustom Mkhjian, diretor-geral da Comissão do Local de Batismo da Jordânia, falou apaixonadamente sobre a alegação de autenticidade pela Jordânia – a UNESCO declarou o local um Patrimônio da Humanidade de imensa importância religiosa para a maioria das denominações da fé cristã, que aceitaram este local como o lugar onde Jesus foi batizado.

Todos os anos celebramos a harmonia inter-religiosa, e entre os dias mais felizes da minha vida estão aqueles em que vejo judeus, cristão e muçulmanos visitarem este local, e todos eles chorarem, diz Mkhjian.

Olga Bokkas, uma visitante de Connecticut, EUA, entra nas águas do Rio Jordão no local de batismo Qasr al-Yahud, próximo à cidade de Jericó, na Cisjordânia — Foto: Oded Balilty/AP
Olga Bokkas, uma visitante de Connecticut, EUA, entra nas águas do Rio Jordão no local de batismo Qasr al-Yahud, próximo à cidade de Jericó, na Cisjordânia — Foto: Oded Balilty/AP 

Tanto o local jordaniano quanto o da Cisjordânia dão aos visitantes acesso a uma faixa estreita do rio, de onde se vê as pessoas do outro lado. Uma bandeira israelense em Qasr al-Yahud, na Cisjordânia, lembra que o rio é uma fronteira separando os dois mundos.

Esse local também é divulgado como o lugar onde Jesus foi batizado. Jordânia e Israel, que assinaram um acordo de paz em 1994, competem pelos dólares do turismo dessas pessoas.

Várias pessoas com túnicas brancas esvoaçantes entraram na água, vindas da Cisjordânia. Visitantes de outro grupo ficaram de pé na margem ou na água enquanto dois homens vestidos de preto derramavam água do rio sobre suas cabeças.

Oh, Brothers, let’s go down. (...) Down in the river to pray (Ah, irmão, vamos até lá. (...) Lá no rio rezar, uma tradicional canção gospel americana), cantaram algumas pessoas.

Esses momentos serenos contrastam com as trocas de hostilidades que já aconteceram nas margens do rio.

Qualquer água doce deixada no rio seria vista no passado como forma de fortalecer o inimigo, diz Gidon Bromberg, diretor em Israel da EcoPeace Oriente Médio. Você leva tudo que pode.

Turistas visitam Al-Maghtas, ou Betânia do Além-Jordão, na margem oriental do Rio Jordão, na Jordânia — Foto: Raad Adayleh/AP
Turistas visitam Al-Maghtas, ou Betânia do Além-Jordão, na margem oriental do Rio Jordão, na Jordânia — Foto: Raad Adayleh/AP

Israel, de uma perspectiva histórica, levou aproximadamente metade da água, e Síria e Jordânia, a outra metade, segundo Bromberg.

Os palestinos não podem mais acessar o Rio Jordão ou usar sua água, observou um relatório ONU-Alemanha de 2013. De acordo com o relatório, a Síria também não tem acesso, mas construiu barragens na sub-bacia do Rio Yarmouk, que faz parte da bacia do Rio Jordão.

No passado, o Rio Jordão representava para os palestinos um meio de subsistência, estabilidade econômica e crescimento, conta Nada Majdalani, diretora na Palestina da EcoPeace. Agora, acrescenta, ele foi reduzido a uma ambição de estado e soberania sobre recursos hídricos.

O declínio do rio, segundo ela, é especialmente decepcionante para os palestinos mais velhos, que se lembram de como pescavam, como mergulhavam no rio.

Um sacerdote ortodoxo sérvio batiza um peregrino nas águas do rio Jordão, perto da cidade de Jericó, na Cisjordânia. Centenas de cristãos ortodoxos participaram do ritual como parte de sua peregrinação da Páscoa para a Terra Santa — Foto:  Gali Tibbon/AFP
Um sacerdote ortodoxo sérvio batiza um peregrino nas águas do rio Jordão, perto da cidade de Jericó, na Cisjordânia. Centenas de cristãos ortodoxos participaram do ritual como parte de sua peregrinação da Páscoa para a Terra Santa — Foto: Gali Tibbon/AFP 

Bromberg diz que na tradição judaica, o rio e suas margens são um lugar de milagres (...) ele não reflete um lugar de milagres em seu atual estado de esvaziamento.

Em julho, Israel aprovou planos para reabilitar um trecho do Baixo Jordão, uma decisão que a ministra do Meio Ambiente, Tamar Zandberg, considerou histórica.

Por décadas, ele foi negligenciado e a maior parte de suas águas foi levada, até que ele efetivamente se transformou em um canal de esgoto, disse ela em uma declaração. Em uma era de crise climática e de graves crises ecológicas, há uma dupla importância na reabilitação do Rio Jordão.

Por telefone, Zandberg disse que o projeto se concentra sobre um trecho que corre em território israelense e reflete a melhora na situação hídrica de Israel em decorrência de seu programa de dessalinização, que deixou o país muito menos dependente da água que usava do Mar da Galileia.

Ele pode proporcionar uma história de sucesso nesse setor, e então permitir mais parcerias bem-sucedidas no futuro na região.

É algo que nem sempre aconteceu com facilidade.

Um plano diretor regional de reabilitação e desenvolvimento, anunciado em 2015 pela EcoPeace, entre outros, foi adotado pela Jordânia, mas não por israelenses e palestinos, em razão de questões pendentes no processo de paz, de acordo com a organização.

Tensões políticas paralisaram outras iniciativas.

E o trabalho da EcoPeace não recebe o acolhimento, nem a confiança, de todos.

Sempre somos acusados de ser normalizadores, por ter relações normais com Israel, conta Abu Taleb, a diretora do grupo na Jordânia. É um tema polêmico, detestado por muitos árabes por fatores como as ocupações israelenses e a falta de solução para a questão palestina.

Bromberg conta que também recebe críticas de uma minoria barulhenta em Israel, acusando indevidamentea defesa de interesses pelo grupo de beneficiar jordanianos e palestinos às custas dos interesses israelenses.

Os problemas hídricos também complicam os esforços de revitalização.

A Jordânia é um dos países com maior escassez de água no mundo, e seus desafios são agravados por uma população em crescimento, acrescida de ondas de refugiados. As mudanças climáticas ameaçam exacerbar esses problemas.

Estamos sob estresse, não temos um excedente para acrescentar ao Rio Jordão e revitalizá-lo, explica Khalil Al-Absi, jordaniano que trabalha na Autoridade do Vale do Jordão. Ele acrescenta: Temos muitas belas ideias para o Rio Jordão, mas existem limitações.

Apesar de todos os desafios que o rio enfrenta, Al-Absi afirma permanecer otimista. A alternativa seria terrível.

Água é vida, diz Al-Absi. Sem água, não há vida.

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Artemis I: entenda importância da missão da Nasa que vai voltar à Lua 50 anos depois do programa

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Apollo Na segunda-feira, o foguete 'mais poderoso de todos os tempos' fará um voo de teste sem tripulação ao redor da Lua, mas empreitada tem riscos e pode ser interrompida.
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Por g1

Postado em 28 de agosto de 2022 às 07h00m

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À esquerda na montagem está o foguete Saturno V, com a espaçonave Apollo 12 a bordo, na plataforma de lançamento do Centro Espacial Kennedy, em 1969. À direita está o novo foguete lunar da Nasa para o programa Artemis, com a espaçonave Orion no topo, no Centro Espacial Kennedy em Cabo Canaveral, Flórida, em 18 de março de 2022. — Foto: AP
À esquerda na montagem está o foguete Saturno V, com a espaçonave Apollo 12 a bordo, na plataforma de lançamento do Centro Espacial Kennedy, em 1969. À direita está o novo foguete lunar da Nasa para o programa Artemis, com a espaçonave Orion no topo, no Centro Espacial Kennedy em Cabo Canaveral, Flórida, em 18 de março de 2022. — Foto: AP

Nesta segunda-feira (29), às 9h33 (horário de Brasília), um foguete de 98 metros de comprimento vai decolar do Centro Espacial Kennedy, no estado americano da Flórida. O destino? A Lua.

O foguete, o mais poderoso da história da história da Nasa, marca o início da missão Artemis I – parte de uma nova etapa de exploração lunar que quer levar humanos de volta à superfície da Lua, 50 anos após o programa Apollo. E o objetivo vai além: chegar, no futuro, a Marte.

A missão desta segunda ainda não é tripulada, mas é altamente simbólica para a Nasa – que, hoje, não tem mais os soviéticos como concorrentes (como em 1969, quando Neil Armstrong pisou na Lua pela primeira vez) – e sim a China e concorrentes privados, como a SpaceX, de Elon Musk.

Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na Lua, em foto de 2016. — Foto: Jose Jordan/AFP
Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na Lua, em foto de 2016. — Foto: Jose Jordan/AFP

Se tudo correr bem, entretanto, astronautas da agência espacial americana poderão se preparar para, em 2024, dar uma volta ao redor do satélite natural da Terra. A Nasa pretende pousar duas pessoas na superfície lunar até o final de 2025.

Mas os funcionários da agência alertam que o voo, um teste de seis semanas, é arriscado e pode ser interrompido se algo falhar.

"Vamos fazê-lo fazer coisas que nunca faríamos com uma equipe, para tentar torná-lo o mais seguro possível, disse o chefe da Nasa, Bill Nelson, à Associated Press na última quarta-feira (24).

O astronauta da Nasa Stanley Love deu uma entrevista à agência de notícias Reuters explicando um pouco sobre os riscos:

"O ponto principal do voo não acontece até os últimos minutos, quando voltamos a mergulhar na atmosfera da Terra, depois de cair da Lua a algo como 24 mil milhas por hora [cerca de 39 mil km/h], 5 mil graus [Fahrenheit, cerca de 2.750ºC] naquele escudo térmico", disse.

E a missão também não saiu barata: foram mais de 4 bilhões de dólares (cerca de R$ 20 bilhões). Se considerados os custos desde o início do programa, há dez anos, até o pouso na Lua, em 2025, são 93 bilhões de dólares (cerca de R$ 471 bilhões).

Veja, abaixo, 5 pontos sobre o voo da Artemis I:

  • Foguete
A Lua se põe em frente ao foguete Artemis da Nasa, com a espaçonave Orion a bordo, no bloco 39B do Centro Espacial Kennedy, em 15 de junho de 2022. — Foto: AP Photo/John Raoux
A Lua se põe em frente ao foguete Artemis da Nasa, com a espaçonave Orion a bordo, no bloco 39B do Centro Espacial Kennedy, em 15 de junho de 2022. — Foto: AP Photo/John Raoux

O novo foguete é mais curto e mais fino do que os Saturno V, que lançaram 24 astronautas da Apollo à Lua há 50 anos – mas é mais poderoso, com 4 milhões de kg de empuxo. Ao contrário do Saturno V, aerodinâmico, o novo foguete tem um par de propulsores refeitos dos ônibus espaciais da Nasa.

  • Cápsula

Com 3 metros de altura, a cápsula Orion é mais espaçosa que a cápsula da Apollo, acomodando quatro astronautas em vez de três.

Para o voo de teste, um manequim em tamanho real em um traje de voo laranja ocupará o assento do comandante, equipado com sensores de vibração e aceleração. Dois outros manequins, feitos de material que simula tecido humano – cabeças e torsos femininos, mas sem membros – medirão a radiação cósmica, um dos maiores riscos dos voos espaciais.

Ao contrário do foguete, a Orion já foi lançado antes, dando duas voltas ao redor da Terra em 2014.

  • Plano de voo

O voo da Orion deve durar seis semanas, desde a decolagem na Flórida até o pouso no Pacífico. Levará quase uma semana para chegar à Lua, a 386 mil quilômetros de distância.

Depois de girar próximo da Lua, a cápsula entrará em uma órbita distante, ficando a 450 mil quilômetros da Terra – mais longe do que Apollo.

O grande teste ocorre no final da missão, quando Orion atinge a atmosfera a 40 mil km/h a caminho de um mergulho no Pacífico. O escudo térmico usa o mesmo material das cápsulas Apollo para suportar temperaturas de reentrada de 2.750ºC. O design avançado antecipa os retornos mais rápidos e mais quentes das futuras tripulações que irão a Marte.

  • 'Passageiros'

Além dos três bonecos de teste, o voo tem uma série de "passageiros clandestinos" para pesquisas no espaço profundo.

Dez satélites do tamanho de uma caixa de sapatos serão lançados assim que a Orion for arremessada em direção à Lua. A Nasa espera que alguns falhem, dada a natureza de baixo custo e alto risco deles.

Em uma saudação de volta ao futuro, a Orion carregará algumas lascas de rochas lunares coletadas por Neil Armstrong e Buzz Aldrin, da Apollo 11, em 1969, e um parafuso de um de seus motores de foguete, recuperados do mar há uma década.

  • Apollo vs. Artemis

Mais de 50 anos depois, a missão Apollo ainda é a maior conquista da Nasa. Usando tecnologia da década de 1960, a agência espacial americana levou apenas oito anos para lançar à Lua seu primeiro astronauta, Alan Shepard, e até o pouso de Neil Armstrong e Buzz Aldrin.

Doze astronautas da Apollo andaram na Lua de 1969 a 1972, permanecendo não mais que três dias de cada vez.

Por outro lado, Artemis já se arrasta há mais de uma década. Para a nova missão, a Nasa vai usar um grupo diversificado de astronautas – atualmente com 42 pessoas – e está estendendo o tempo que as equipes passarão na Lua para, pelo menos, uma semana. O objetivo é criar uma presença lunar de longo prazo.

A agência promete anunciar as primeiras tripulações lunares assim que a Orion estiver de volta à Terra.

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