E mesmo diante de tantas campanhas promovidas por diversas
instituições, órgãos de segurança e ONGs a favor da preservação, as
florestas continuam correndo riscos constante de queimadas e devastação.
De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
(Imazon), apenas nos cinco primeiros meses de 2022, a Amazônia perdeu
mais de 2 mil campos de futebol por dia de mata nativa, a maior devastação dos últimos 15 anos para o período. A Amazônia ainda conta com vastas áreas de floresta, mas elas se encontram sob ameaça.
Segundo maior desmatador da Amazônia
O Pará está situado no maior corredor de florestas protegidas do mundo
com cerca de 21 milhões de hectares — Foto: Agência Pará O Pará é o segundo maior estado do Brasil, e também o segundo que mais desmatou a Amazônia em 2022,
com cerca de 471 km², o que representa 32% e lidera ranking com mais de
mil processos contra desmatadores na região amazônica.
Com extensão territorial de 1.245.871 km², o estado do Pará abriga 9%
das florestas tropicais do mundo, segundo a organização The Nature
Conservancy. O desmatamento nessas áreas, além de trazer prejuízos
ambientais, pode resultar ainda em riscos à saúde de comunidades
tradicionais.
Em solo paraense, um dos grandes problemas é o avanço da devastação sobre áreas protegidas, como unidades de conservação (UCs) e terras indígenas (TIs). Seis das 10 UCs e quatro das 10 TIs mais desmatadas na Amazônia ficam no Pará, segundo o Imazon.
O Pará apresenta metade das Áreas de Proteção (APs) no ranking das 10 mais ameaçadas na região como APA do Tapajós e a Floresta Nacional (Flona) do Tapajós.
As florestas
Parte da Floresta Nacional do Tapajós com o rio Tapajós ao fundo — Foto: g1
Preservar as florestas é essencial, pois não garante somente os
processos biológicos, como traz diversos benefícios à sociedade.
"As florestas fornecem água potável para mais de 33% das maiores cidades do mundo.
A qualidade deste recurso, primordial para a saúde e o desenvolvimento
rural e urbano, está vinculada com a gestão florestal. As florestas propiciam 40% de toda a energia renovável do mundo", destacou João Victor, brigadista.
Além disso, as grandes florestas desempenham um papel primordial na regulação do clima ao ajudar na absorção do gás carbônico da atmosfera.
Proteção às florestas
Floresta Nacional do Tapajós — Foto: g1
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), as políticas públicas para o combate ao desmatamento
implementadas a partir de 2004 contribuíram para que a taxa de
desmatamento na Amazônia brasileira desacelerasse em mais de 80%, caindo
de 27,8 mil km² em 2004 para 4,6 mil km² em 2012, segundo o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Na região Oeste do Pará, o ICMBio atua nas unidades de conservação
federal como Flona Tapajós e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e
da Biodiversidade do Estado do Pará (IdeflorBio). O órgão também abrange
unidades de conservação estaduais, como o Parque Estadual de Monte
Alegre.
O ICMBio faz a gestão dessas unidades de conservação com a missão de “proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental”.
As florestas públicas
O conceito de florestas nacionais nasceu com o Código Florestal de
1934, que institui os tipos de florestas públicas especialmente
protegidas: Áreas de Proteção Ambiental (APA), Áreas de Relevante
Interesse Ecológico (ARIE), Florestas Nacionais (Flona), Reservas
Extrativistas (Resex), Reservas de Fauna e Reservas de Desenvolvimento
Sustentável.
Reguladas pela Lei 9.985/00 que criou o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza (SNUC), as espécies nativas podem ser usadas na
cadeia produtiva do setor florestal e no oeste do Pará, o manejo
florestal sustentável é realizado na Floresta Nacional do Tapajós, garantindo emprego e renda, com o uso múltiplo sustentável dos recursos naturais.
Em 2006 foi entrou em vigor a Lei 11.284, que dispõe sobre a gestão de
florestas públicas para produção sustentável e instituiu o Serviço
Florestal Brasileiro.
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Manejo florestal sustentável na Floresta Nacional do Tapajós — Foto: Asimas/Divulgação
“Nas florestas nacionais, a concessão florestal é aberta, qualquer
empresa pode solicitar, desde que cumpra os requisitos do Código
Florestal Brasileiro e no edital de licitação da área. Já nas reservas
extrativistas, como o objetivo é conservar o modo de vida tradicional,
apenas os moradores podem manejar”, reforça Candido Batista do
Nascimento, Presidente da Associação das Indústrias Madeireiras de Santarém e Região (Asimas).
De acordo com a legislação atual, é permitido realizar as atividades de
manejo florestal por meio de concessões, que autorizam o solicitante a
explorar a área de forma sustentável. A lei aponta que uma floresta
nacional, como a Flona Tapajós, em Belterra (PA), é de posse e domínio
públicos. Quando criada, as áreas privadas incluídas em seus limites
devem ser desapropriadas; já as populações tradicionais que já a
habitavam permanecem, desde que incluídas no regulamento e no Plano de
Manejo da unidade para garantir o uso sustentável da floresta.
“Nessas áreas é permitida a presença humana, bem como atividades de
subsistência, pesquisas científicas e o ecoturismo, contudo, a atividade
mais rentável dentro de uma Flona é o manejo florestal, o qual pode ser
madeireiro ou não madeireiro. A atividade de manejo é altamente
interessante para as comunidades que moram dentro das Florestas
Nacionais, pois emprega muitos trabalhadores em atividades como
inventário, corte, arraste de toras, assim como subsidia outras
atividades, como a produção de móveis a partir de resíduos florestais, e
artesanatos produzidos a partir de cipós, cascas, entre outros”,
ressalta Victor Moutinho, professor da Universidade Federal do Oeste do
Pará (Ufopa) e doutor em Recursos Florestais.
A concessão é uma alternativa prevista do Código Florestal Brasileiro que tem como princípio impedir a degradação e devastação da floresta pela ocupação desordenada
e, assim fomentar e viabilizar uma gestão sustentável, aumentar a renda
e ofertar melhor qualidade de vida para as populações locais.
As florestas públicas estão sob a gestão do governo federal e devem ser
monitoradas por seus órgãos de regulamentação e fiscalização. A
colheita passa por um rigoroso processo de análise documental, incluindo
tecnologia de GPS, que permite o monitoramento de toda a cadeia do
produto, da retirada da floresta ao consumidor final.
Alvos de incêndios
Voluntário combatendo incêndio em Alter do Chão — Foto: Semma/Divulgação No dia 14 de setembro de 2019, um incêndio de grande proporção atingiu a floresta de Alter do Chão,
localizada em Santarém, no oeste do Pará. As chamas avançaram para a
rodovia Everaldo Martins e o incêndio se estendeu até Ponta de Pedras,
afetarando grande área da mata nativa.
No dia seguinte, os brigadistas iniciaram o combate ao fogo, que
naquele momento tinha três grandes focos. O Corpo de Bombeiros e o
Exército Brasileiro também foram acionados.
No mesmo dia, centenas de fotos viralizaram nas redes sociais com uma
verdadeira cortina de fumaça sobre a vila de Alter do Chão. Pelas
imagens aéreas era possível vislumbrar a extensão do fogo que atingiu a
floresta.
Um grupo com representantes da Polícia Militar, Companhia de Missões
Ambientais, Companhia de Polícia Ambiental, Semma e Corpo de Bombeiros
foi montado para trabalhar em conjunto nas investigações para apurar
possível ação criminosa no local. Um inquérito havia sido instaurado.
Brigadistas presos por suspeita de incêndio em Alter do Chão
Da esquerda para a direita: Marcelo Cwerver, Gustavo Fernandes, João
Romano e Daniel Gutierrez, brigadistas de Alter do Chão — Foto:
Divulgação Quatro integrantes da Brigada de Incêndio de Alter do Chão foram presos no dia 26 de novembro de 2019, por suspeita de incêndio criminoso na Área de Proteção Ambiental (APA).
Foram presos preventivamente Daniel Gutierrez Govino, João Victor
Pereira Romano, Gustavo de Almeida Fernandes e Marcelo Aron Cwerver.
Na época, Wlandre Leal, advogado de defesa dos brigadistas, disse que
não existiam no inquérito provas concretas que ligassem os brigadistas
aos crimes contra a flora e associação criminosa, dos quais são
apontados como suspeitos pela polícia.
A Justiça Federal, no dia 9 de fevereiro de 2021, arquivou o inquérito da Polícia Federal (PF) que investigou as causas dos incêndios. Em março, a Promotoria de Justiça de Santarém, também promoveu o arquivamento do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) que apurava a suposta prática de incêndios criminosos.