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segunda-feira, 12 de julho de 2021

Mudanças climáticas: o gás 'esquecido' que contribui 300 vezes para efeito estufa do que CO2

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Óxido nitroso corresponde a cerca de 6% das emissões de gases de efeito estufa, a maior parte vinda da agricultura.
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TOPO
Por Ula Chrobak, BBC

Postado em 12 de julho de 2021 às 12h40m


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Agricultura é principal fonte de emissões de N2O a partir da atividade humana — Foto: Getty Images via BBC
Agricultura é principal fonte de emissões de N2O a partir da atividade humana — Foto: Getty Images via BBC

No esforço mundial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a fonte de nossos alimentos está ganhando destaque.

Há uma boa razão para isso: a agricultura é responsável por 16% a 27% das emissões do aquecimento global causadas pela ação do homem.

Mas muitas dessas emissões não são de dióxido de carbono (CO2), o conhecido vilão da mudança climática. São de outro gás: óxido nitroso (N2O).

Também conhecido como gás hilariante, o N2O não recebe a atenção que merece, diz David Kanter, pesquisador de poluição de nutrientes na Universidade de Nova York, nos EUA, e vice-presidente da International Nitrogen Initiative, organização focada em pesquisa e formulação de políticas de combate à poluição por nitrogênio.

"É um gás de efeito estufa esquecido", afirma.

No entanto, molécula por molécula, o N2O é cerca de 300 vezes mais potente que o dióxido de carbono no aquecimento da atmosfera.

E, assim como o CO2, tem vida longa, passando em média 114 anos no céu antes de se desintegrar. Também destrói a camada de ozônio.

De fato, o impacto climático do gás hilariante não é uma piada.

Cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) estimaram que o óxido nitroso corresponde a cerca de 6% das emissões de gases de efeito estufa, e cerca de três quartos dessas emissões de N2O são provenientes da agricultura.

Mas, apesar de sua importante contribuição para a mudança climática, as emissões de N2O foram amplamente ignoradas pelas políticas climáticas.

E o gás continua a se acumular.

Uma revisão de 2020 das fontes e sumidouros de óxido nitroso mostrou que as emissões aumentaram 30% nas últimas quatro décadas — e estão excedendo praticamente todos os potenciais cenários de emissões mais elevadas descritos pelo IPCC.

O solo agrícola — sobretudo por causa do uso intensivo de fertilizantes sintéticos à base de nitrogênio no mundo — é o principal culpado.

Hoje, os cientistas estão buscando várias maneiras de tratar o solo ou ajustar as práticas agrícolas para reduzir a produção de N2O.

"Qualquer coisa que possa ser feita para melhorar a eficiência do uso de fertilizantes seria importante", diz Michael Castellano, agroecologista e cientista do solo da Universidade Estadual de Iowa, nos EUA.

Desequilíbrio de nitrogênio

A humanidade desequilibrou o ciclo de nitrogênio da Terra.

Fertilizantes sintéticos são grande fonte de emissões de N2O na agricultura — Foto: Getty Images via BBC
Fertilizantes sintéticos são grande fonte de emissões de N2O na agricultura — Foto: Getty Images via BBC

Antes do surgimento da agricultura moderna, a maior parte do nitrogênio disponível nas fazendas vinha de compostos, esterco e micróbios fixadores de nitrogênio que pegam o gás nitrogênio (N2) e o convertem em amônia, um nutriente solúvel que as plantas podem absorver pelas raízes.

Isso tudo mudou no início dos anos 1900 com o lançamento do processo Haber-Bosch, que oferecia um método industrial para produzir grandes quantidades de fertilizante à base de amônia.

Essa abundância de fertilizantes sintéticos impulsionou a produção agrícola e ajudou a alimentar as pessoas em todo o mundo, mas esse excedente de nitrato e amônia vem com custos ambientais.

A produção de fertilizantes à base de amônia é responsável por cerca de 1% de todo o uso global de energia — e por 1,4% das emissões de CO2 (o processo requer aquecer o gás nitrogênio e submetê-lo a pressões de até 400 atm, portanto, consome muita energia).

Mais importante, o fertilizante leva ao aumento das emissões de óxido nitroso porque os agricultores tendem a aplicar o nitrogênio em seus campos algumas vezes em grandes quantidades durante o ano, e as lavouras não conseguem usar tudo.

Quando as raízes das plantas não absorvem o fertilizante, parte dele escoa do campo e polui os cursos de água.

O que resta é consumido por uma sucessão de micróbios do solo que convertem a amônia em nitrito, depois em nitrato e, finalmente, de volta ao gás N2.

O N2O é produzido como um subproduto em alguns pontos durante este processo.

Aplicar fertilizantes com cuidado na hora que as plantas realmente precisam ou encontrar maneiras de manter a produção agrícola com menos fertilizantes nitrogenados reduziria essas emissões de N2O.

Os cientistas estão analisando várias maneiras de fazer isso.

Uma estratégia que está sendo investigada é usar técnicas de agricultura de precisão que adotam tecnologia de sensoriamento remoto para determinar onde e quando adicionar nitrogênio aos campos, e em que quantidade.

Outra é usar inibidores de nitrificação, produtos químicos que suprimem a capacidade dos micróbios de transformar a amônia em nitrato, impedindo a criação de N2O e mantendo o nitrogênio no solo para ser usado pelas plantas por um período de tempo mais longo.

A ampla adoção destas duas práticas reduziria as emissões de óxido nitroso em cerca de 26% de sua trajetória atual até 2030, de acordo com uma estimativa de 2018 feita por pesquisadores do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados na Áustria.

Mas os autores dizem que será necessário mais do que isso para ajudar a atingir as metas de gases do efeito estufa, como as estabelecidas no Acordo de Paris.

Portanto, os cientistas estão explorando estratégias adicionais.

Soluções de solo

Micróbios no solo quebram amônia por meio de uma série de reações, liberando N2O no processo, o que pode ser medido em campo — Foto: Getty Images via BBC
Micróbios no solo quebram amônia por meio de uma série de reações, liberando N2O no processo, o que pode ser medido em campo — Foto: Getty Images via BBC

Uma opção envolve aproveitar o potencial de certos micróbios para fornecer nitrogênio diretamente às plantas, da mesma forma que as bactérias fixadoras de nitrogênio já fazem em parceria com o feijão, amendoim e outras leguminosas.

"Há realmente uma mina de ouro vivendo no solo", diz Isai Salas-González, biólogo computacional, que recentemente terminou seu doutorado na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, e escreveu um artigo sobre o microbioma vegetal publicado neste ano na revista acadêmica Annual Review of Microbiology.

Nessa linha, desde 2019 a empresa Pivot Bio comercializa um produto microbiano chamado Pivot Bio Proven que, segundo eles, forma uma simbiose com as raízes das lavouras depois que um inoculante é derramado nos sulcos onde as sementes de milho são plantadas. (A empresa planeja lançar produtos semelhantes para sorgo, trigo, cevada e arroz.)

Os micróbios fornecem nitrogênio aos poucos, em troca de açúcares liberados pela planta, reduzindo a necessidade de fertilizantes sintéticos, diz Karsten Temme, presidente-executivo da Pivot Bio.

Temme conta que os cientistas da empresa criaram o inoculante ao isolar uma cepa da bactéria Kosakonia sacchari que já tinha capacidade de fixar nitrogênio em seu genoma, embora os genes em questão não fossem naturalmente ativos sob as condições do campo.

Usando a tecnologia de edição de genes, os cientistas foram capazes de reativar um conjunto de 18 genes para que a bactéria produza a enzima nitrogenase, mesmo na presença de fertilizante sintético.

"Nós as induzimos a começar a produzir essa enzima", diz Temme.

Steven Hall, biogeoquímico da Universidade Estadual de Iowa, está testando agora o produto em grandes contêineres do tamanho de uma caçamba de lixo com milho sendo cultivado neles.

Os pesquisadores aplicam o inoculante, junto a diferentes quantidades de fertilizante sintético, no solo e medem as safras de milho, a produção de óxido nitroso e a quantidade de nitrato que é liberado da base dos contêineres.

Embora os resultados do teste ainda não tenham sido divulgados, Hall diz que há "um bom embasamento inicial" para a hipótese de que os micróbios reduzem a necessidade de fertilizantes, diminuindo assim as emissões de óxido nitroso.

Plantio direto

Mas alguns cientistas do solo e microbiólogos são céticos quanto a uma rápida solução microbiana.

Adotar uma aração mínima pode ajudar a reduzir as emissões de N2O do solo — Foto: Getty Images via BBC
Adotar uma aração mínima pode ajudar a reduzir as emissões de N2O do solo — Foto: Getty Images via BBC

"Biofertilizantes" como esses têm um sucesso relativo, dependendo do solo e do ambiente em que são aplicados, diz Tolu Mafa-Attoye, estudante de pós-graduação em microbiologia ambiental na Universidade de Guelph, no Canadá.

Em um estudo de campo de trigo, por exemplo, inocular as safras com micróbios benéficos aumentou o crescimento das plantas, mas resultou em colheitas apenas ligeiramente maiores.

As incógnitas são abundantes, escreveram em fevereiro os colegas de Mafa-Attoye da Universidade de Guelph na revista acadêmica Frontiers in Sustainable Food Systems — como, por exemplo, se os micróbios vão afetar negativamente a ecologia do solo ou se vão ser superados por micróbios nativos.

Em vez de adicionar um micróbio, pode fazer mais sentido encorajar o crescimento de micróbios desejáveis ​​que já existem no solo, diz Caroline Orr, microbióloga da Teesside University, no Reino Unido.

Ela descobriu que reduzir o uso de pesticidas levou a uma comunidade microbiana mais diversa e a uma maior quantidade de fixação natural de nitrogênio. 

Além disso, a produção de óxido nitroso é influenciada pela disponibilidade de carbono, oxigênio e nitrogênio — e todos são afetados pelo ajuste do uso de fertilizantes, irrigação e aração.

Veja, por exemplo, o ato de arar a terra. Uma análise de mais de 200 estudos mostrou que as emissões de óxido nitroso aumentaram nos primeiros 10 anos depois que os agricultores pararam ou reduziram o hábito de arar suas terras. Mas depois disso, as emissões caíram.

Johan Six, coautor da análise e agroecologista do Instituto Federal de Tecnologia (ETH) de Zurique, na Suíça, acredita que é porque no começo os solos estavam em um estado fortemente compactado após anos de equipamentos passando por cima deles.

Com o tempo, porém, o solo não perturbado forma uma estrutura semelhante a migalhas de biscoito que permite que mais ar entre.

E em ambientes com alto teor de oxigênio, os micróbios produzem menos óxido nitroso.

Esses sistemas de plantio direto também resultam em mais armazenamento de carbono porque menos aração significa conversão reduzida de carbono orgânico em CO2 — proporcionando, assim, um benefício adicional para o clima.

Pode até ser possível para os agricultores economizar dinheiro em fertilizantes e água e reduzir as emissões, mantendo a produtividade.

Em uma pesquisa em fazendas de tomate no Vale Central da Califórnia, Six descobriu que terrenos de estudo com preparo reduzido do solo e um sistema de irrigação por gotejamento que liberava nitrogênio lentamente para as plantas — diminuindo a quantidade de nutrientes acumulados no solo — as emissões de N2O foram reduzidas em 70%, em comparação com terrenos gerenciados de forma convencional.

O agricultor que implementou essas mudanças também foi compensado por sua redução de gases de efeito estufa por meio do programa estadual de cap-and-trade (quando os limites de emissão de um setor podem ser negociados entre as empresas, criando créditos de carbono para aquelas que reduzirem as suas emissões). 

Com os incentivos certos, convencer os agricultores a reduzir suas emissões pode não ser tão difícil, diz Six.

No estado americano do Missouri, o agricultor Andrew McCrea cultiva 2.000 acres de milho e soja em sistema de plantio direto.

Neste ano, ele planeja reduzir o uso de fertilizantes e ver se o inoculante da Pivot Bio pode manter sua produção mais ou menos igual.

"Acho que todos os agricultores certamente se preocupam com o solo", diz ele.

"Se pudermos cortar custos, também será ótimo."

E se os formuladores de políticas públicas se voltarem para o combate ao óxido nitroso, haverá grandes benefícios para todos nós, afirma Kanter, da Universidade de Nova York.

Alguns deles poderiam ser mais rápidos e tangíveis do que o combate às mudanças climáticas.

As mesmas medidas que reduzem os níveis de N2O também diminuem a poluição do ar e da água local, assim como as perdas de biodiversidade.

"São coisas que as pessoas vão ver e sentir imediatamente", afirma Kanter, "em anos, ao invés de décadas ou séculos."

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Este artigo foi publicado originalmente na Knowable Magazine, e foi republicado pela BBC Future com permissão.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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domingo, 11 de julho de 2021

Bilionário Richard Branson viaja ao espaço em foguete da Virgin Galactic

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Voo levou o bilionário dono da Virgin Galactics e mais 5 tripulantes e voltou com sucesso à Terra.
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g1.globo.com/ciencia-e-saude

Postado em 11 de julho de 2021 às 13h20m


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Resumo

O bilionário Richard Branson, fundador do grupo Virgin, foi ao espaço em um foguete de sua própria empresa.
Ele sai na frente de Jeff Bezos e Elon Musk, outros bilionários que planejam viagens espaciais.
A missão Unity 22 voou com 6 pessoas de um espaçoporto construído pela empresa no Novo México, nos EUA.
A nave ficou alguns minutos no espaço, quando os tripulantes puderam sentir a ausência da gravidade.
O tempo total da viagem foi de mais de 1 hora e volou ao mesmo local da decolagem. Leia mais sobre o plano.

vídeos
Foguete VSS Unity da Virgin Galactic desacopla de avião e entra no espaço; ASSISTA

Foguete VSS Unity da Virgin Galactic desacopla de avião e entra no espaço; ASSISTA

VÍDEO: Avião que leva o foguete VSS Unity da Virgin Galactic decola nos EUA

VÍDEO: Avião que leva o foguete VSS Unity da Virgin Galactic decola nos EUA
Richard Branson: veja curiosidades do bilionário que viaja ao espaço


Richard Branson: veja curiosidades do bilionário que viaja ao espaço

Últimas atualizações
Assista no vídeo abaixo o exato momento em que o VSS Unity desacopla de avião e entra no espaço:
Foguete VSS Unity da Virgin Galactic desacopla de avião e entra no espaço; ASSISTA
VSS Unity pousa com sucesso com o bilionário Richard Branson a bordo:

Virgin
Virgin (Foto: Reprodução) há 3 horas

O VSS Unity pousa com sucesso na pista do espaçoporto em Los Cruces, no estado do Novo México, após a viagem ao espaço.
A felicidade de quem viajou ao espaço (e vai ganhar muito dinheiro com isso):

Richard Branson sorri durante voo espacial com o foguete VSS Unity
Richard Branson sorri durante voo espacial com o foguete VSS Unity (Foto: Reprodução/G1)
há 3 horas

O foguete VSS Unity entra no espaço:
O foguete VSS Unity entra no espaço com o bilionário Richard Branson e mais 5 tripulantes
O foguete VSS Unity entra no espaço com o bilionário Richard Branson e mais 5 tripulantes (Foto: Reprodução/G1)

Veja no vídeo abaixo o exato momento em que o avião decola levando o VSS Unity:
VÍDEO: Avião que leva o foguete VSS Unity da Virgin Galactic decola nos EUA

Richard Branson e mais 5 tripulantes viajam ao espaço. Imagem de dentro do foguete.
Richard Branson e mais 5 tripulantes viajam ao espaço. Imagem de dentro do foguete. (Foto: Reprodução)

Fortuna de mais de US$ 4 bilhões, pioneirismo e extravagâncias: saiba quem é o bilionário Richard Branson, dono da Virgin Galactics:
Richard Branson: veja curiosidades do bilionário que viaja ao espaço


Bilionário Richard Branson se antecipa a Bezos e voa para o espaço
Foto: (Reprodução/G1)
Tecnologia

70 anos, aventureiro e fortuna de mais de US$ 5 bi: saiba quem é Branson
Voo suborbital: entenda o que é e veja como foi a viagem do bilionário

Nave decolou do Novo México, nos EUA, e percurso durou pouco menos de 20 minutos.
Foto: (Reprodução/G1)
Ciência e Saúde

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sábado, 10 de julho de 2021

A misteriosa nuvem de gelo que envolve o Sistema Solar

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Na parte mais fria e escura de nosso sistema — uma região ainda a ser visitada por espaçonaves humanas —, está uma nuvem estranha e gelada que contém material de outras estrelas.
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TOPO
Por BBC

Postado em 10 de julho de 2021 às 11h00m


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O cometa C/2020 F3 (Neowise) não deverá retornar à região do Sistema Solar onde está a Terra nos próximos 6,8 mil anos — Foto: Jeff Overs/BBC
O cometa C/2020 F3 (Neowise) não deverá retornar à região do Sistema Solar onde está a Terra nos próximos 6,8 mil anos — Foto: Jeff Overs/BBC

Por algumas semanas no verão de 2020, se você estivesse olhando para o céu em uma noite clara, teria sido possível avistar um visitante raro na nossa região do Sistema Solar.

Através de binóculos, ele tinha a forma de um cometa clássico — um núcleo brilhante e uma longa cauda formada pelo gelo liberado em forma de gás pelo calor do Sol. Pôde até ser visto a olho nu no hemisfério norte durante o início de julho. Mas depois ele desapareceu.

Ninguém que viu aquele cometa — chamado C/2002 F3 (Neowise) — voltará a vê-lo novamente. Nem seus filhos. Tampouco várias gerações depois dos filhos de seus filhos. Este cometa, em particular, não será visto novamente por mais de 6,8 mil anos.

Sua breve passagem, no entanto, foi notável por algo que vai além de quanto tempo levaria para retornar (muitos cometas de ciclo curto visitam nossos céus várias vezes durante a vida de uma pessoa). Acredita-se que o C/2002 F3 (Neowise) tenha vindo de uma das partes menos exploradas e mais misteriosas de nosso sistema — a vasta e congelada Nuvem de Oort.

Ela se encontra nos confins do Sistema Solar, além do cinturão de asteroides e dos gigantes gasosos, mais longe do que os mundos gelados de Urano e Netuno, e até mesmo bem fora da distante órbita de Plutão. Situa-se além do limite da heliosfera, a bolha de plasma lançada por nosso Sol que envolve nosso sistema e marca o início do espaço interestelar.

Como uma enorme concha, a Nuvem de Oort envolve o Sistema Solar — não apenas ao longo do plano em que os planetas, asteroides e planetas anões se encontram, mas se estendendo por todas as direções. O único problema é que não podemos ter certeza absoluta de que essa enorme cúpula de gelo está realmente lá.

Os astrônomos nunca viram diretamente a Nuvem de Oort, e a espaçonave mais distante já lançada pela humanidade — a Voyager 1 — não deve chegar lá pelos próximos 300 anos. Mas novas pesquisas estão começando agora a revelar alguns de seus segredos, e o mesmo se espera das próximas missões espaciais. Visitas de cometas distantes como o C/2002 F3 (Neowise) também fornecem algumas pistas.

A Nuvem de Oort foi prevista pela primeira vez por Jan Oort, em 1950, para explicar a existência de cometas como Neowise. Diferentemente dos cometas de ciclo curto, que geralmente levam menos de 200 anos para orbitar o Sol e são provenientes de um disco de gelo que fica além de Netuno chamado Cinturão de Kuiper, a origem daqueles com órbitas muito mais longas era mais difícil de explicar.

A maioria dos cometas de ciclo longo leva entre 200 e 1.000 anos para completar uma órbita do Sol. Eles também têm órbitas excêntricas, chegando muito perto do Sol e, em seguida, ficando extremamente distantes novamente.

Oort teorizou que esses cometas poderiam vir de um conjunto de objetos distantes, feitos principalmente de rocha e gelo, muito longe do alcance de nosso sistema. Acredita-se que essa enorme massa de objetos comece em algum lugar em torno de 306 bilhões de km a 756 bilhões de km do Sol.

Acredita-se que a Nuvem de Oort consiste em bilhões, senão trilhões, de pedaços de gelo e rocha que se formaram aproximadamente ao mesmo tempo que os planetas — Foto: Pablo Carlos Budassi
Acredita-se que a Nuvem de Oort consiste em bilhões, senão trilhões, de pedaços de gelo e rocha que se formaram aproximadamente ao mesmo tempo que os planetas — Foto: Pablo Carlos Budassi

Isso é equivalente de 2 mil a 5 mil vezes a distância da Terra ao Sol (uma distância de 150 milhões de km, conhecida como unidade astronômica, ou UA).

Algumas estimativas preveem que a nuvem se estenda por até 100 mil a 200 mil UA (15 trilhões de km a 29 trilhões de km) no espaço.

"Até agora não temos nenhuma outra explicação satisfatória para o fornecimento contínuo de cometas de período longo que observamos", diz Cyrielle Opitom, que estuda cometas e o Sistema Solar na Universidade de Edimburgo, na Escócia.

"Ao reconstruir suas órbitas, eles parecem compartilhar um afélio — a maior distância do Sol — a cerca de 20 mil vezes a distância do Sol à Terra, no que chamamos de Nuvem de Oort."

As origens da nuvem ainda são um mistério. Ela pode conter centenas de bilhões ou até mesmo trilhões de planetesimais — pedaços sólidos de rocha ou gelo, semelhantes aos cometas, que muitas vezes são os blocos de construção dos planetas.

Mas esses objetos, todos variando de alguns quilômetros a algumas dezenas de quilômetros, são pequenos demais para serem vistos diretamente da Terra, mesmo com nossos telescópios mais poderosos.

Um estudo recente, no entanto, ofereceu algumas pistas sobre o que pode ter levado à formação da Nuvem de Oort. Simon Portegies Zwart e seus colegas da Universidade de Leiden, na Holanda, usaram uma série de simulações de computador para estudar como a nuvem se formou, em ordem cronológica, ao longo de 100 milhões de anos.

É o primeiro estudo a vincular todas as etapas na formação da nuvem, em vez de examiná-las separadamente. Os resultados mostram que a nuvem "não se formou de forma simples, mas por uma espécie de conspiração da natureza, em que uma série de processos teve que acompanhar", diz Portegies Zwart.

Segundo ele, planetas, estrelas e a Via Láctea desempenharam um papel em sua formação. "A complexidade do processo me surpreendeu."

Mas os resultados significam que é improvável que nosso sistema seja o único envolto por uma vasta nuvem de gelo. "Uma vez que tínhamos mapeado os vários processos, eles acabaram sendo uma consequência bastante natural da evolução do Sistema Solar", afirma Portegies Zwart.

Comparada ao sistema solar, a Nuvem de Oort é uma enorme bolha de material que envolve os planetas e nosso So — Foto: Mark Garlick/Gettty Images
Comparada ao sistema solar, a Nuvem de Oort é uma enorme bolha de material que envolve os planetas e nosso So — Foto: Mark Garlick/Gettty Images

Seu trabalho também fez previsões sobre o que a Nuvem de Oort poderia conter. E, se estiverem corretas, ela pode conter material estranho ao nosso sistema solar: "Coisas de outras estrelas", diz Portegies Zwart.

A ideia de que nosso Sol pode ter roubado material de outro lugar foi apresentada pela primeira vez há cerca de uma década. "No aglomerado de estrelas de nascimento do Sol, as estrelas irmãs estariam aninhadas próximas o suficiente para suas nuvens de cometa se sobreporem e se emaranharem", diz Michele Bannister, astrônoma planetária da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia. "Depois, elas se separaram enquanto o aglomerado se dispersava."

Assim como a Nuvem de Oort pode conter cometas de outras estrelas, alguns de nossos próprios cometas podem estar orbitando agora outras estrelas em contrapartida.

Um estudo, de novembro de 2020, sugere que os objetos interestelares podem ser mais numerosos do que os do nosso próprio sistema. Outro estudo, que divulgou os resultados preliminares no início deste ano, identificou três estrelas que podem ter passado pela Nuvem de Oort.

Exatamente quanto da Nuvem de Oort vem de outras estrelas permanece um mistério, e estudar os cometas de perto pode não responder essa questão.

"Seria muito difícil saber quais cometas não foram formados aqui, mas talvez estudos futuros de cometas interestelares visitantes em tempo real nos deem algumas pistas sobre isso", diz Kat Volk, cientista planetária da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

Os resultados do estudo de Portegies Zwart e sua equipe sugerem que cerca de metade dos objetos na parte interna da nuvem e um quarto na parte externa podem ter sido capturados de outro lugar.

Compreender a Nuvem de Oort — e os cometas provenientes dela — pode nos dar algumas pistas importantes sobre as origens do nosso sistema e como ele se formou. Esses objetos são alguns dos mais primitivos a um alcance próximo, e acredita-se que eles se formaram ao mesmo tempo que os planetas.

"Seria muito bom ser capaz de fazer alguns furos em alguns objetos da Nuvem Oort e analisar o material", diz Portegies Zwart.

Mas a Voyager 1, que foi lançada há mais de 40 anos, ainda está a apenas um décimo da distância dos limites do Sistema Solar até a Nuvem de Oort, e é improvável que faça contato direto com qualquer coisa lá a menos que colida, e a obtenção de tais amostras poderia demorar muito.

Há quatro outras espaçonaves que vão chegar futuramente à Nuvem de Oort — Voyager 2, New Horizons e Pioneer 10 e 11.

"Mas vai demorar tanto para chegarem lá que sua fonte de energia vai morrer muito antes", diz Opitom. "É muito longe."

Em vez disso, pode ser mais fácil obter amostras de um pedaço da Nuvem de Oort que chegou até nós. Os cientistas já estão coletando pistas do que esses objetos misteriosos são feitos a partir de dados que estão reunindo a partir de observações de cometas suspeitos de terem se originado lá. Não precisamos ir aos cometas para ver do que são feitos.

Os resultados iniciais de alguns estudos encontraram monóxido de carbono, água e outros tipos de carbono e silicato em cometas da Nuvem de Oort. Mas há a expectativa de que seja possível dar uma olhada mais de perto em um desses cometas com uma missão espacial.

Missões recentes, como a sonda Rosetta e o módulo de aterrissagem Philae, da Agência Espacial Europeia, e a espaçonave Deep Impact da Nasa, agência espacial americana, visitaram cometas que estavam de passagem. Outras, como a Hayabusa e Hayabusa 2, do Japão, e a Osiris-Rex, da Nasa, também coletaram amostras de asteroides para trazê-los de volta à Terra.

Mas não é tão fácil no caso de cometas da Nuvem de Oort, uma vez que eles geralmente não são descobertos até alguns anos antes de atingirem o ponto mais próximo em sua órbita do Sol. "É uma escala de tempo muito curta para preparar uma missão e enviá-la ao encontro de um cometa", diz Opitom.

Uma próxima missão, no entanto, tem como objetivo voar perto de um cometa que veio diretamente da Nuvem de Oort, em vez de um que já passou pelo Sol algumas vezes antes.

"Há missões de naves espaciais projetadas para visitar novos cometas de período longo, elas são lançadas e depois aguardam em uma espécie de estacionamento em órbita até que um alvo adequado seja detectado", explica Volk.

Uma delas, a Comet Interceptor ("Interceptador de Cometa", em tradução livre), que será lançada pela Agência Espacial Europeia, vai usar várias espaçonaves para selecionar um cometa como alvo e depois estudá-lo de perto. "Esta é uma missão muito emocionante... e espero que nos permita investigar um cometa muito primitivo vindo diretamente da Nuvem de Oort pela primeira vez", diz Opitom.

Antes do lançamento da Comet Interceptor em 2029, um telescópio atualmente em construção no Chile, chamado Observatório Vera Rubin, começará a procurar cometas de ciclo longo provenientes da Nuvem de Oort quando for concluído em 2023.

"Isso nos permitirá enviar missões a cometas provenientes da Nuvem de Oort, e é isso que a Comet Interceptor vai fazer, mesmo que não colete e traga de volta uma amostra", explica Opitom.

Estudar os cometas de perto nos permite "monitorar como eles mudam à medida que são aquecidos pelo Sol quando chegam perto, após eras em congelamento profundo", diz Bannister.

E se for a primeira visita, podem trazer alguns segredos com eles. Olhar diretamente para os cometas desta maneira pode ajudar a responder perguntas como o quão grande a nuvem realmente é — e quanto dela é proveniente do nosso sistema.

Enquanto os cientistas continuam a juntar essas pistas para aprender mais sobre a Nuvem de Oort e reunir evidências de sua existência, só saberemos com certeza quando uma de nossas espaçonaves se aventurar nesta região desconhecida do espaço.

Se a Voyager 1 conseguir sobreviver por mais 300 anos, a humanidade realmente terá alcançado uma nova fronteira.

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